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Palanque imprevisto

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Alexandre Garcia

Fico a pensar que avaliação fez Sérgio Moro ao pedir a publicação da íntegra da reunião ministerial de 22 de abril ao Supremo e que tipo de resultado esperava o Ministro Celso de Mello ao concordar com o pedido. O vídeo foi publicado no fim da tarde de sexta-feira e fica a pergunta: a quem interessava? A Sérgio Moro, que apareceu constrangido, cobrado pelo Presidente, e até vexado pela Ministra Damares? Havia algum objetivo do Ministro Celso de Mello na exposição pública de uma reunião interna de governo, entre quatro paredes? Já não bastaria a Justiça ter tido acesso para checar insinuações do ex-ministro? O que teria o juiz do Supremo imaginado sobre as consequências, com o pouco tempo que teve para decidir?
Pode ter faltado a Sérgio Moro uma reflexão sobre o que pensa de si mesmo e o que pensariam as pessoas que vissem aquelas cenas. Seu ego ferido justificava sair do governo, ao não aceitar as reclamações de seu chefe. Foi o que fez, mas quis mostrar a todos as reiteradas cobranças que o chefe. Ainda ministro, convocou a imprensa para lavar o orgulho ferido e desagravar-se do Presidente.

O juiz do Supremo que deliberou divulgar uma reunião não pública de governo já tinha dado sinais estranhos de desarmonia entre poderes independentes. Depois de ameaçar conduzir três ministros, generais quatro estrelas, sob vara, encaminhou ao Procurador Geral um pedido de partidos de oposição para quebrar o sigilo do celular do Presidente da República. Poderia ter arquivado imediatamente o absurdo, mas deu andamento ao pedido. Quanto à “vara”, delegados federais foram aos gabinetes dos ministros colher os depoimentos, como ocorre usualmente. Ficaram as provocações.

A divulgação do vídeo acabou em piadas. Uma delas diz que Celso de Mello se tornou marqueteiro de Bolsonaro. Outra, que a Justiça Eleitoral mandaria recolher o vídeo por propaganda eleitoral antecipada. Porque a divulgação marcou um reencontro dos eleitores com seu Presidente. Mostrou que ele governa com energia, cobra, critica a equipe, diz palavrões, quer o cumprimento das promessas de campanha e exige que o time todo tenha na cabeça os princípios e valores do chefe do governo. E nem se pode acusá-lo de palanqueiro, porque suas falas não eram para ser divulgadas. Domingo em Brasília manifestação ficou mais animada e na segunda feira o dólar baixou e a bolsa subiu. Nem Moro nem Celso de Mello refletiram sobre o palanque que armaram sem querer.

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