quarta-feira, 8/maio/2024
PUBLICIDADE

Três pessoas desaparecem por dia em Mato Grosso

PUBLICIDADE

Em média, três pessoas desaparecem por dia em Mato Grosso, segundo dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), que apontam a existência de 972 registros entre janeiro e outubro deste ano. No mesmo período de 2014 foram oficializados 943 casos na Polícia Civil. Porém, no Estado, somente a região Metropolitana conta com setor específico para atender esse tipo de demanda, o Núcleo de Desaparecidos, vinculado a Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), em Cuiabá, onde foram registrados 625 desaparecimentos entre 1º de janeiro e 23 de outubro deste ano.

A região concentra a maior demanda com cerca de dois casos registrados diariamente. Em todo ano de 2014, o Núcleo contou com 801 registros, sendo que 558 pessoas foram localizadas durante o trabalho policial ou retornaram para casa por escolha. O restante, 243, permanecem com o paradeiro desconhecido.

Responsável pelo Núcleo, o delegado Luciano Inácio pontua que o serviço especializado faz toda diferença na resolução dos casos. Ainda assim, muitos ficam sem solução. Entre as vantagens de existir o trabalho específico está a concentração de cadastro das vítimas desaparecidas e a localização de restos mortais de pessoas encontradas sem identificação. Os dados são confrontados e muitos casos são elucidados dessa forma, a exemplo do ocorrido essa semana envolvendo um homem, que havia deixado a família em decorrência do vício com o álcool e a droga. Com a localização do corpo foi realizado o confronto de dados e descoberto que tratava-se da pessoa dada como desaparecida.

Quanto as investigações realizadas diante da comunicação de “sumiço” de alguém, ele explica que o trabalho é similar a apuração de crime de homicídio, mas sem o cadáver. É feita a coleta de dados sobre a vítimas e seus hábitos, a trajetória feita na data do desaparecimento, na tentativa de encontrar a motivação. Muitos deixam as famílias em decorrência do consumo de drogas, álcool, ou mesmo pela dificuldade de relacionamento e não querem ser encontrados. Há ainda a recorrência de desaparecimentos de adolescentes, que deixam a casa por uns dias porque os pais não aceitam o namoro. Os casos em que existe um maior aprofundamento nas investigações são os que existem a suspeita policial ou familiar de homicídio. Normalmente, essas pessoas somem sem levar nada. Cita como exemplo caso de um homem registrado em agosto. Entre os elementos que levam a Polícia crer a existência de crime é o fato dele ser muito ligado a família. “Não levou nenhuma peça de roupa, nada”.

Nessas situações, relata o delegado, as investigações são voltadas para a identificação de suspeitos, que geralmente levam a Polícia onde está o corpo, como ocorreu com os cunhados Wagner França, 37, e Fábio da Conceição de Campos, 33. Eles foram vistos com vida pela última vez em 11 de agosto. Em 6 de outubro, após a prisão de envolvidos no caso, a Polícia foi levada até a cova onde os cadáveres haviam sido enterrados.

Conforme o delegado, não há prazo para encerrar as investigações dessa natureza. E todo material precisa ser guardado, uma vez que pode refletir em situações posteriores. Para o delegado, a não localização representa muita tristeza para as famílias, especialmente para as mães. “Passam o tempo todo procurando, buscando uma explicação para o fato de não encontrarem o familiar. Vemos o sofrimento no rosto das pessoas, principalmente as mães”. INTERIOR – Nos municípios do interior do Estado, a ausência de equipes específicas para realizar as investigações termina sendo um entrave para localizar as vítimas e as famílias permanecem anos sofrendo com a situação. Muitas nunca chegam a encontrar os entes queridos.

Um dos casos de maior repercussão em Mato Grosso nos últimos dias é relacionado ao desaparecimento da manicure Sandra Godoy, 29, de Barra do Garças. Ela foi vista pela última vez em 29 de setembro e nunca mais atendeu as ligações ou respondeu as mensagens da família. O delegado Deuel Paixão, que investiga o caso, pontua que a ausência de equipe específica para investigar o desaparecimento atrapalha o trabalho. Como o caso tem que ser apurado juntamente com outros crimes, não há como se dedicar exclusivamente para a situação.

Aliado a isso, frisa que a história de Sandra envolve mistérios e vários relacionamentos amorosos, que precisam ser checados um a um. Conforme o delegado, a manicure afirmou para a família que iria para Ribeirão Cascalheira resolver problemas de uma casa, mas comprou passagem de ônibus para Canarana, onde desembarcou e encontrou o ex-namorado. O rapaz foi ouvido e diligências foram realizadas na fazenda onde vive, mas nada foi encontrado. À Polícia Civil de Água Boa, ele contou que encontrou a mulher e a deixou na saída de Canarana. Depois seguiu sozinho para Ribeirão Cascalheira. “Ele é suspeito, foi apontado pela família como um possível responsável pelo sumiço, mas não tem elementos que o mantenham preso”.

Além desse rapaz, Sandra mantinha um relacionamento homossexual na cidade em que mora, contato com o ex-marido, além de casos esporádicos com terceiros. “São muitas pessoas envolvidas. Também não conseguimos identificar porque ela disse que ia para um lugar, mas comprou passagem para outro. Não sabemos o que ela estava escondendo da família”.

Para o delegado, o relatório do Setor de inteligência da Polícia Civil pode trazer alguma novidade e pistas de onde a mulher está. Ele acredita que ela esteja viva e tenha se afastado da família por interesse próprio. Entre os casos que ficam sem solução em Mato Grosso está o do casal Genivaldo Bispo dos Santos, 24, e Verônica Guimarães Bezerra, 20, e a filha Raíssa Bispo dos Santos, de 1 ano e 9 meses, desaparecidos desde janeiro de 2010. Moradores de Pedra Preta, eles sumiram sem deixar pistas.

A investigação foi realizada inicialmente pelo delegado da cidade, porém o inquérito foi encaminhado para Cuiabá. Uma funcionária da delegacia relata que o serviço foi transferido para o GCCO, onde também não há informações sobre a documentação. Na região Norte, a menina Sara Vitória sumiu quando tinha cinco anos de idade no ano de 2010, na cidade de Sorriso. Ela nunca foi encontrada. A reportagem buscou informações sobre o caso na delegacia do município durante esta semana. E foi informada que somente um investigador tinha conhecimento do assunto, porém ele permaneceu fora da unidade nesse período.

Outro lado – conforme o delegado-geral da Polícia Judiciária Civil, Adriano Peralta, o número de pessoas que desaparecem de forma involuntária é muito pequeno para que se crie estruturas de investigação nos municípios do Interior. Pontua que o Núcleo em Cuiabá recebeu maior atenção por ter uma demanda superior. Frisa ainda que as delegacias do Interior tem condições de investigar os casos, recebendo apoio logístico da capital, quando solicitado.

COMPARTILHE:

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias
Relacionadas

Justiça bloqueia R$ 1,6 milhão da prefeitura de Peixoto para pagar instituto de saúde

O poder judiciário atendeu pedido do Ministério Público estadual...

Restaurante do trabalhador terá novos equipamentos em Lucas do Rio Verde

O novo procedimento licitatório, previsto para dia 20 de...

Abertas inscrições para mutirão ambiental CAR Digital em Lucas do Rio Verde

O Mutirão Ambiental CAR Digital Médio Norte, em Lucas...
PUBLICIDADE