O deputado federal Carlos Bezerra (PMDB-MT) gastou no mês de abril R$ 9 mil com aluguel de jatinho. A empresa contratada foi a CHC Táxi Aéreo. Fora isso, o político de Mato Grosso, que aparece na lista dos “mais gastadores” da Câmara dos Deputados, consumiu em verbas indenizatórias mais R$ 4,4 mil com combustíveis, com ênfase para duas despesas, ambas de 1,4 mil, com posto de gasolina. Presidente do PMDB no Estado, Bezerra é o parlamentar da bancada de Mato Grosso na Câmara dos Deputados que mais se utilizou de recursos da verba indenizatória. Em segundo lugar aparece Thelma de Oliveira, do PSDB, que também gastou R$ 4,5 mil com combustíveis, a exemplo de Eliene Lima (PSB). A deputada tucana ainda gastou mais R$ 3,9 mil com aluguel de imóveis.
Os deslocamentos, em verdade, forma o principal gastos dos políticos de Mato Grosso. Pedro Henry, do PP, também foi ao limite de R$ 4,5 mil com despesas de combustíveis e lubrificantes. Ao todo, o progressista gastou R$ 6.077 em abri, sendo R$ 1,168 com aluguel de carro e pagamento de hotel. Os deputados Valtenir Pereira (PSB) e Carlos Abicalil, do PT, disputam quem gasta menos. Em abril, Pereira apresentou despesas de pouco mais de R$ 700,00. Já o parlamentar representante do PT apenas R$ 514,00. Os demais deputados – Homero Pereira e Wellington Fagundes – não apresentaram despesas relacionadas ao mês de abril. Cada deputado pode gastar até R$ 15 mil
Os gastos de abril, no entanto, é bem menor que os meses anteriores. O princípio da transparência, que traz a tona detalhes da chamada “farra” com o dinheiro público, parece ter inibido a gastança dos políticos de Mato Grosso. De alguns, evidentemente. Há um ano, por exemplo, Bezerra mantinha os mesmos gastos, quase R$ 15 mil. Em fevereiro deste ano, o peemedebista chegou a pedir R$ 17,7 mil de ressarcimento por despesas, sendo R$ 9,7 mil com locomoção, hospedagem e alimentação. Mas outros aliviaram. Carlos Abicalil é um deles. O parlamentar nunca se fez de rogado quando apresentava as notas fiscais do que pagou. Em um mês, chegou a pedir R$ 20 mil. Porém, agora, a menos que tenha tido outros motivos, o parlamentar é o que menos gastou. O mesmo ocorreu com Wellington Fagundes, que vem reduzindo as despesas pagas pelo contribuinte.
Em verdade, a transparência das notas fiscais dos gastos dos deputados com a verba indenizatória, iniciada este mês, mostra que as despesas vão além da atividade legislativa. Sushi, pizza, TV a cabo e churrascaria. Apesar de no início do mês o primeiro secretário da Câmara, Rafael Guerra (PSDB-MG), ter anunciado aos parlamentares proibição do pedido de ressarcimento de gastos com alimentação em Brasília, o deputado Índio da Costa (DEM-RJ) comeu sushi na Asa Sul e enviou a conta para a Casa. No Rio, ele vai à Capricciosa de Copacabana por conta da Câmara. Dr. Adilson Soares (PR) mandou a conta do Giraffas do Setor de Clubes, e Vinicius de Carvalho (PTdoB) enviou a da churrascaria Porcão. Eduardo Lopes (PSB) usa a verba para pagar padaria e o restaurante a quilo do Congresso.
A “farra” com o dinheiro público ainda persiste. A deputada Marina Maggessi (PPS) aproveita a proximidade do seu gabinete na Barra com o Botequim Informal, o Ponto da Barra e o Sushi Jardim Oceânico para gastar a verba. Os gastos com assinatura de TV de Geraldo Pudim (PMDB), Neilton Mulim (PR), Solange Amaral (DEM) e Edmilson Valentim (PCdoB) também são custeados, a R$ 800 o grupo, por mês.
Os escândalos envolvendo as cotas parlamentares tiram o sono até do presidente a Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que também teve seu nome citado na farra das passagens. Ontem, em pleno feriado, ele se reuniu com líderes partidários e deve anunciar em alguns dias o fim da verba indenizatória, pois não consegue moralizar os gastos.
Os vôos dos deputados continuam na pauta dos escândalos. Até mesmo ministro do Tribunal de Contas da União, responsável por fiscalizar os gastos públicos, pegou carona na cota de passagens. O ministro Augusto Nardes ganhou viagem do deputado José Otávio Germano (PP-RS). O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio, Wadih Damous, disse que a entidade provocará o Ministério Público Federal para obrigar os parlamentares a devolver aos cofres públicos o valor correspondente às passagens que não foram usadas por motivo de trabalho.
No olho do furacão, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), suspendeu o feriado e convocou líderes para estabelecer a pauta da reunião desta quarta-feira, que discutirá mudanças nas cotas de benefícios dos parlamentares. Ganhou força a tese de incorporar parte da verba indenizatória e aumentar o salário dos deputados de R$ 16 mil para R$ 24 mil ¿ teto do Poder Judiciário.
Mas, antes, Temer deve enviar proposta que muda lei que atualmente vincula o salário dos deputados federais a dos parlamentares estaduais e ao dos vereadores. Sem essa mudança, os representantes estaduais e municipais poderiam pleitear vencimentos de R$ 18 mil e R$ 13,5 mil, respectivamente, gerando efeito cascata nas contas públicas. A Câmara também estuda a adoção de uma cota única, gerenciada com um cartão corporativo, com detalhamento dos gastos em tempo real, na Internet.