quinta-feira, 18/abril/2024
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Pelo “não” no referendo

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Faz uns 30 anos que, pela primeira vez, peguei numa arma. Na verdade, em várias armas: revólver, pistola, fuzil e até metralhadora. Foi pura circunstância, uma vez que eu estava servindo ao Exército Brasileiro (no antigo 16º Batalhão de Caçadores, hoje 44º Batalhão de Infantaria Motorizada, em Cuiabá) e todo esse armamento fazia parte da rotina do quartel, nos trabalhos de adestramento da tropa. Quem esteve na caserna sabe do que estou falando.

De lá para cá, passadas três décadas, nunca me interessou dispor e nem sequer discutir sobre qualquer tipo de arma (inclusive, a branca, também conhecida como faca).

Muito embora conviva diariamente com fatos que atestam o crescente volume da violência (é o assunto que mais vende jornal e dá audiência no rádio e na TV), eu nunca pretendi ter uma arma. Contudo, a exemplo de muitos outros cidadãos, gradativamente, me deparo com uma dúvida: será que eu me sinto tão seguro o suficiente para abrir mão de um dia vir a possuir uma?

Há vários dias, o cidadão brasileiro é bombardeado (sem trocadilho) com a propaganda do “sim” e do “não” ao comércio de armas no Brasil, no rádio e na TV. Ao contrário do que muitos esperavam, esse “horário eleitoral” só está servindo mesmo para confundir, além de gerar descontentamento em alguns setores da sociedade, principalmente naqueles que acham que essa campanha governamental nada mais é do que uma baita enganação.

Diariamente, a mídia em geral oportuniza a chance de avaliar até onde vão os propósitos do Estado com a campanha do desarmamento. Da mesma forma, revela o estado de ânimo daqueles que consideram que o Governo, ao propor o referendo, simplesmente tenta tirar do cidadão de bem o direito de buscar, quando julgar conveniente (e sempre dentro lei, é importante observar), ter a proteção que o Poder Público não lhe dá, por absoluta incompetência.

Exponho a seguir alguns argumentos contrários ao referendo e ao desarmamento em si, com base em artigos, cartas de leitores aos jornais e entrevistas em geral:

O esforço do Governo, via consulta popular, para proibir a venda de armas, é inócuo, é puro fingimento, pois bandido não compra armas,
O crime organizado não compra arma: ou rouba (até das Forças Armadas) ou as adquire por meio do contrabando (Paraguai, Rússia, Bélgica…),
A Polícia é despreparada, quando não é corrupta,
A Justiça, como de resto todo o aparelho estatal, não tem preparo e é omissa quando o assunto é segurança,
Em vez de referendo sobre venda ou não de armas, o ideal era que se promovesse uma ampla campanha que forçasse o Poder Público cumprir o seu dever;
O Governo tenta, a todo custo, desviar o foco de que ele é o principal responsável pela segurança dos cidadãos;
Seduzido pela campanha eleitoreira em curso, o povo brasileiro, que sempre primou pela bondade, acabaria votando pelo sim acreditando que votou contra a violência;
Votar pelo desarmamento é reconhecer que somos nós os responsáveis pela violência. Nesse caso, estaríamos simplesmente vestindo a carapuça. Assumindo a condição de réu confesso.

Não bastasse tudo isso, a própria campanha eleitoreira do referendo é confusa. Na realidade, o cidadão terá que dizer “sim” para ser contra e dizer “não” para ser a favor da proibição do comércio de armas no Brasil.

Além do mais, o noticiário atesta uma realidade que não é exatamente aquela que o Governo pretende com a promoção do referendo e de sua campanha, por assim dizer, esdrúxula: o número de pedidos de registro de arma de fogo, em Mato Grosso, já supera em cerca de 300% as solicitações feitas durante todo o ano passado.

No próximo dia 23, pode apostar, vou votar pelo “não”.

Antonio de Souza, jornalista, é consultor da Oficina do Texto – Marketing e Assessoria de Imprensa

[email protected][email protected]

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