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Era primeiro de abril

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No dia 27 último, o IPEA, órgão da Presidência da República, publicou uma pesquisa mostrando que 65% das pessoas concordam em que as mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. A pesquisa se chama Tolerância Social à Violência contra as Mulheres. Estranho, porque IPEA quer dizer Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Não dá para entender o que uma coisa tem a ver com a outra. Enfim, o IPEA ouviu 3.810 homens e mulheres e a divulgação gerou um escândalo nacional. Uma jornalista apressou-se a tirar uma foto supostamente desnuda, encoberta por um cartaz dizendo que não merece ser estuprada. Manifestaram-se a presidente Dilma, a Ministra das Mulheres, artistas e apresentadores de programas de TV. 

 Eu fiquei quietinho. Afinal, era uma pesquisa, não uma estatística. Não se dizia que os estupros aumentaram 65%, mas que 65% de homens e mulheres, num grupo de 3.810, ligavam falta de roupa com estupro. Era um caso de opinião. E o direito de opinião, como sabemos, é garantido pela Constituição e uma das características da liberdade e da democracia. Fiquei quieto enquanto se investia furiosamente contra o direito de opinião. Pois não é que se tratava de um engano? É o que dá um instituto de pesquisa econômica se meter em outras questões. Seria um primeiro de abril?

            Na verdade, 13,2% dos homens e mulheres entrevistados concordam inteiramente com a frase – aliás, proposta pelo IPEA – de que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merece ser atacadas”. E 58,4% discordam totalmente da afirmação feita pelo IPEA. A propósito, outro dia, na praia de Ipanema, lotada com mulheres apenas com o fio dental sobre a pele, apareceu uma gringa com maiô inteiriço, branco, cobrindo o tronco totalmente. Todos os olhares masculinos se voltaram para ela, a única que oferecia mistério, despertava a imaginação. As outras, mostrando tudo, já não tinham mais nada para mostrar. A deusa gringa chegou a ser aplaudida pela platéia masculina.

           
Dias antes da errante pesquisa, a premiada jornalista inglesa Lourdes Garcia-Navarro, publicou um artigo com suas impressões de ex-correspondente no Oriente Médio, hoje no Brasil. Contou que se surpreendeu ao ver na TV brasileira uma mulher dançando inteiramente nua, num anúncio de carnaval. A jornalista vinha de países em que as mulheres andam inteiramente cobertas. O artigo dela conclui que em ambos os casos, as mulheres são vítimas da mesma escravidão sexista, machista, corpos femininos sob a vontade dos homens, apenas com sinais trocados: umas, cobertas pela burca; outras, inteiramente nuas. 

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