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Tenente teria desistido de plano para gravar desembargador em MT; câmera espiã foi colocada em farda

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Para tentar atrapalhar as investigações sobre o esquema de interceptações telefônicas ilegais supostamente praticadas por membros do alto escalão do governo e da Polícia Militar, alguns dos envolvidos teriam cooptado o tenente-coronel José Henrique Costa Soares e instalado na farda dele uma microcâmera espiã para que ele pudesse gravar o desembargador do Tribunal de Justiça Orlando Perri e extrair qualquer frase que pudesse ser utilizada pelo grupo criminoso para pedir sua suspeição na condução do inquérito que apura a chamada “arapongagem” – gravação clandestina de conversas telefônicas de políticos, empresários e ex-servidores do governo.

A trama, que judicialmente se caracteriza como obstrução à justiça, foi desvendada pelo próprio militar, que contou tudo à delegada Ana Cristina Feldner, que conduz as investigações e, diante da denúncia, representou pelas oito prisões que foram cumpridas, esta manhã, na operação Esdras. Soares entregou até mesmo sua farda com a câmera, que foi instalada pelo sargento da PM Ricardo Soler a pedido do coronel PM e ex-secretário chefe da Casa Militar Evandro Lesco, ambos presos.

Para conseguir a adesão do tenente-coronel Soares, que atuava como escrivão do inquérito policial militar relacionado às interceptações ilegais, a organização criminosa teria se valido de informações pessoais dele, repassadas supostamente pelo ex-secretário chefe da Casa Civil Paulo Taques, que foi advogado de Soares em uma ocasião e supostas fragilidades na vida pessoal de Soares teriam sido utilizadas para coagi-lo a se comportar conforme o interesse dos acusados de executar os grampos ilegais. “Sabiam eles do seu estado emocional delicado, franzino nas circunstâncias de quem lutava para se reerguer. A própria abstinência de drogas já o debilitava emocionalmente. Conhecendo seu calcanhar de Aquiles, tornou-se presa fácil do grupo, tanto que acreditou na provável invencionice de a Secretaria de Segurança Pública ter ‘posse de interceptações e vídeos que revelavam sua dependência química’”, revelou o desembargador Orlando Perri, em seu decreto que autorizou a operação.

O magistrado classificou a estratégia da organização criminosa como um “plano diabólico” ao qual Soares condescendeu apenas pelo fato de ter sido “totalmente dominado e constrangido”. De acordo com o depoimento prestado pelo tenente-coronel à delegada, ele foi inicialmente abordado pela personal trainer Helen Christy Lesco, esposa do coronel Evandro Lesco, quando este ainda estava preso na primeira vez. Ela teria dito ao policial que sabia dos problemas dele com as drogas e pedido que ele avisasse sobre tudo o que acontecesse no curso do inquérito policial militar e também que monitorasse os passos do desembargador Orlando Perri.

Passados alguns dias do encontro com Helen, que também foi presa hoje, Soares foi chamado pelo coronel Jorge Catarino ribeiro, responsável pelo IPM, para ir a uma reunião com o desembargador Perri e a delegada Ana Cristina. A conversa com o magistrado foi totalmente gravada em áudio com o celular do escrivão. Foram cerca de 2 horas de gravação, posteriormente entregues por Soares a Helen Christy, em um segundo encontro que tiveram. Tais encontros ocorriam sempre no mesmo local, em posto de combustível, próximo ao Centro Político Administrativo, onde Soares entrava no carro de Helen e era levado até a casa dela.

Nessa ocasião, o coronel Lesco ainda estava preso e, na casa dela, estava também o advogado Marciano Xavier das Neves, que recebeu via bluetooth todo o conteúdo da gravação em áudio feita por Soares na reunião com Perri.

No áudio, o desembargador dizia que estava pensando em mandar soltar o coronel Lesco, o que agradou a esposa deste, que agradeceu o tenente-coronel e o orientou a continuar repassando as informações sobre a investigação. “Extrai-se deste trecho a direta e incisiva participação tanto de HELEN CHRISTY [esposa do Cel. PM Lesco], quanto do advogado MARCIANO XAVIER NEVES, no grupo criminoso”, comentou Perri em sua decisão. Não contentes com o áudio gravado por Soares, os investigados ainda ordenaram que ele fizesse o monitoramento em vídeo do desembargador Orlando Perri, o que foi solicitado a ele pelo próprio Evandro Lesco depois que foi solto, em um encontro na casa dele. O objetivo seria usar qualquer frase e imagem do magistrado para pedir na justiça a sua suspeição e afastamento do caso.

 

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