O ex-governador Silval Barbosa teria usado sua influência política junto ao vice-presidente da República, Michel Temer, presidente do partido em que ambos são filiados, o PMDB, para obter a soltura de sua esposa, a ex-primeira-dama, Roseli Barbosa, presa durante a operação Ouro de Tolo. É o que apontam as interceptações realizadas pelo Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), com autorização da Justiça.
A transcrição destes telefonemas foi juntada no processo em que ela é ré no início desta semana e, pelo fato da ação não correr sob sigilo, é pública. Um dia depois do diálogo, Roseli foi solta por decisão do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Reynaldo Soares da Fonseca, que concedeu habeas corpus em favor da ex-secretária.
Conforme o relatório, Silval viajou para Brasília e se encontrou com o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, possivelmente para definir os termos que fariam parte do habeas corpus que seria impetrado no STJ, após negativa da Justiça de Mato Grosso. Depois da reunião com o advogado, Silval manteve contato telefônico com a chefe de gabinete de Temer, Nara de Deus Vieira, para tentar um encontro com o vice-presidente.
Em uma das ligações feitas pela servidora, ela pede para que Silval compareça imediatamente. “Vem agora, pode vir agora”. Silval responde que o trânsito em Brasília estava complicado, no que ela responde que haveria tempo hábil para a audiência. “Aí coloco o senhor para falar com ele”. Aproximadamente 40 minutos depois, Nara liga novamente para o ex-governador, perguntando se ele já havia chegado ao Palácio do Planalto.
Diante da negativa de Silval, a chefe de gabinete afirma que Temer não podia mais esperar por ele e questiona se a conversa pode ser feita por um telefone. O ex-governador responde que procuraria um telefone fixo para fazer a ligação, que acabou não sendo interceptada.
No entanto, por volta das 22 horas, Nara faz outra ligação a Silval perguntando qual é o nome completo da esposa do ex-governador. Um dia depois destas ligações, Roseli foi solta por decisão de Fonseca, empossado no cargo em maio deste ano e apoiado pelo ex-presidente José Sarney (PMDB).
Para os responsáveis pelo relatório, a última ligação demonstra claramente a articulação política para a soltura de Roseli. “Se não fosse essa a intenção, por qual motivo Nara Vieira questionaria Silval se poderia falar sobre esse assunto via telefone? E, porque Silval preferiu contatar de um telefone fixo? E, ainda
porque Nara contataria Silval para questionar o nome completo de Roseli?”. No mesmo relatório, foram registradas as conversas de Silval com um homem não identificado (HNI), que, após confirmação do próprio magistrado, sabe-se ser o desembargador Marcos Machado.