Os produtores de soja de Mato Grosso consideraram insuficientes as medidas anunciadas nesta sexta-feira pelo governo para apoiar a comercialização da safra e afirmaram que os protestos no Estado e no país devem ganhar mais força, segundo dirigentes da Aprosoja-MT, que reúne os integrantes do setor.
“Agora vamos intensificar os protestos. O governo está definitivamente brincando com a cara de quem produz. Para fazer um anúncio desse tipo, deveria ter ficado quieto”, afirmou o diretor da Aprosoja Ricardo Tomczyk, agricultor de Rondonópolis, importante região produtora do Estado, onde há bloqueios em rodovias nas BRs 163 e 364.
“Está tudo fechado. Não passa nem bicicleta”, disse ele, referindo-se aos bloqueios nas estradas utilizadas para escoar a produção até os portos do Sul e Sudeste e também para indústrias em Goiás.
O Mato Grosso é o maior produtor nacional da oleaginosa.
Nesta sexta-feira, o governo federal anunciou que vai direcionar cerca de 1 bilhão de reais para auxiliar a comercialização da safra. Os recursos deverão ser destinados para a realização de leilões de prêmio de risco de opção privada (PROP).
Com o Prop, o governo deve bancar parte da diferença entre o custo de produção e o preço da soja no mercado físico. O prêmio deve variar de 1,50 a 6 reais por saca de 60 quilos, de acordo com a distância entre os centros produtor e consumidor.
Segundo Tomczyk, a medida pode apenas dar um “refresco” para aquele agricultor que ainda não vendeu.
“Quem já vendeu a sua safra para pagar dívidas não foi contemplado. A medida é, no mínimo, injusta”, destacou.
Além disso, o diretor da Aprosoja considerou os recursos destinados ao Prop insuficientes. A diferença entre o custo de produção e o preço de mercado da soja no Mato Grosso, segundo ele, é de 10 reais por saca.
“Falando apenas de comercialização, precisaria de ajuda de 10 reais por saca colhida, independentemente se a soja foi comercializada ou não.”
O objetivo do anúncio seria reduzir os protestos de agricultores que tiveram início há três semanas no Mato Grosso e se espalharam por outros Estados.
Segundo fontes da indústria, há o risco de desabastecimento com os bloqueios, e a falta de matéria-prima já estaria sendo percebida por várias empresas.
As medidas de apoio à comercialização surgem quatro dias antes da manifestação nacional de agricultores, prevista para a próxima terça-feira, que deverá contar com a presença de governadores em Brasília, em apoio às reivindicações dos produtores.
PRODUTORES QUEREM MAIS
Segundo outro diretor da Aprosoja, Glauber Silveira, presidente da Comissão de Crédito da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso), o Prop muitas vezes é inviável, pois os produtores participantes obrigatoriamente têm de estar adimplentes, algo difícil em situação de crise. Atualmente os produtores sofrem com a perda de rentabilidade em consequência do dólar fraco frente ao real.
Ele disse também que outras questões burocráticas para a participação nos leilões de Prop, como o credenciamento de armazéns junto à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), também dificultam a efetivação da ajuda governamental.
Os agricultores querem medidas para garantir a renda dos produtores, acrescentou Silveira. “Mais uma vez o produtor está sendo enrolado… Essa ajuda é paliativa, o problema é de renda. Teria de ser uma medida que valesse para todas as safras e não apenas para essa”, afirmou ele, que ainda espera para este mês novas medidas de apoio à produção.
O setor quer algum tipo de subvenção ao preço do diesel para reduzir os custos de produção e de frete, além de desoneração de importação de insumos agrícolas mais baratos, autorização para vendas de mais agroquímicos genéricos e redução da carga tributária.