A maioria dos seis deputados petistas ameaçados de perderem os mandatos, por envolvimento no escândalo do “mensalão”, deve renunciar antes da abertura dos processos de cassação na Câmara, previsto para a próxima terça-feira. A iniciativa, recomendada pelo próprio PT, com aval do Planalto, visa a esvaziar a crise política iniciada há cerca de cinco meses e pretende evitar que a mesma se estenda até 2006 – ano eleitoral. Para convencer os parlamentares a abandonarem os cargos, o PT, internamente, fechou acordo garantindo a legenda aos “cassáveis”, a fim de eles tentarem nova eleição no próximo ano.
A rádio CBN ouviu alguns petistas que chegaram na manhã de hoje para a reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e eles defenderam que não irão renunciar.
Inicialmente, o presidente interino do partido, Tarso Genro, tinha se declarado contrário à concessão desse “privilégio” para os deputados que renunciassem, porém o restante da direção nacional petista descartou essa idéia.
A estratégia da renúncia não deve ficar restrita ao PT: boa parte dos 13 parlamentares com processos sob análise na Mesa Diretora também cogita essa saída, como forma de evitarem a perda dos direitos políticos por oito anos em eventual cassação. De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, José Borba (PR), ex-líder do PMDB, José Janene (PR), líder do PP, e Vadão Gomes (PP-SP) já estão com os ofícios de renúncia prontos. Os agora ex-deputados Valdemar Costa Neto (PL-SP) e Bispo Rodrigues (PL-RJ), também acusados, já optaram por essa via.
A entrega dos processos pela Mesa ao Conselho de Ética deve ocorrer na próxima terça, quando os mesmos devem ser abertos. A partir desse prazo, já não será mais possível renunciar a fim de evitar as punições.
Os petistas ameaçados são Professor Luizinho (SP), Josias Gomes da Silva (BA), João Paulo Cunha (SP), Paulo Rocha (PA), João Magno (MG), José Mentor (SP). O ex-ministro e deputado José Dirceu (SP), também incluído no rol de “cassáveis”, já não poderá renunciar (e, publicamente, nem pretende fazê-lo), pois já tramita seu processo de cassação no Conselho.
Dirceu, inclusive, recorreu mais uma vez ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta semana para tentar parar o trâmite. Antes, outros petistas também tentaram essa saída, conseguiram liminar garantindo sua defesa na Corregedoria mas não puderam evitar que a mesma encaminhasse os processos para análise do Conselho de Ética.
Apesar de publicamente negarem a possibilidade de renúncia, os deputados do PT, de acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, revelaram a integrantes do Conselho que poderão abandonar os mandatos, mediante a garantia (já confirmada) de que permaneceriam no PT a fim de tentarem o retorno à Câmara em 2006.
Lula recebe bancada petista
Pelo menos 65 dos 83 deputados do PT, incluindo “cassáveis” como Dirceu, estão reunidos hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros da Casa Civil, Dilma Roussef, das Relações Internacionais, Celso Amorim, e da Fazenda, Antonio Palocci.
O encontro se destina a tratar justamente da crise política e das estratégias para recompor a base governista na Câmara, após a eleição do novo presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A idéia é retomar a normalidade após o vendaval de denúncias e traçar formas de votar projetos importantes para o governo federal. Dentro desse quadro, que também prevê reuniões de Lula com bancadas de outras legendas (na última sexta, o presidente conversou com membros da cúpula do PMDB), o assunto renúncia pode ser mencionado.