A semana começa com a expectativa do depoimento do ex-ministro da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP), ao Conselho de Ética da Câmara, nesta terça-feira, no processo de cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor da denúncia sobre o suposto esquema do “mensalão”.
Além disso, com a denúncia de que Roberto Marques, assessor pessoal de Dirceu, teria sido autorizado a fazer saque de R$ 50 mil em uma das contas das empresas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do “mensalão”, cresce a pressão para que ele seja convocado para depor na CPI dos Correios.
Para o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da comissão, o possível elo entre Dirceu e o esquema de mesada no Congresso tornou sua convocação “inevitável”, como mostra a edição desta segunda-feira da Folha de S.Paulo.
“A oitiva do José Dirceu é inevitável. Está ficando impossível não acontecer. Acho que o requerimento necessariamente vai ser votado e aprovado na terça-feira”, afirmou à Folha Serraglio. A reunião da CPI ocorrerá algumas horas antes do depoimento de Dirceu ao conselho.
Relações perigosas
Simone Vasconcelos, diretora financeira da SMPB, uma das empresas de Valério, confirmou ter autorizado Marques a sacar em São Paulo o dinheiro em uma agência do Banco Rural.
A diretora disse que confirmará a versão –que ligaria Dirceu ao esquema do suposto “mensalão”– em depoimento à Polícia Federal nesta segunda-feira, e à CPI dos Correios, na quarta-feira.
No sábado, a revista “Veja” divulgou cópia de um documento apreendido pela PF em Belo Horizonte (MG) que complicou a situação de Dirceu: uma lista com a relação das pessoas autorizadas a retirar dinheiro da conta de Valério –entre elas, seu assessor Roberto Marques.
Marques negou a acusação e Dirceu divulgou uma nota, na qual diz que a acusação é uma armação para tentar desmoralizá-lo.
Sem precipitações
Até membros da base aliada já admitem que a convocação de Dirceu está próxima. “Se o documento autorizando o saque for autêntico, então a situação é muito delicada. Mas pode não ser. Agora, em qualquer hipótese a aprovação do requerimento para convocar o ex-ministro é inevitável”, disse à Folha o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP).
Por sua vez, o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), pediu calma aos colegas. “O clima é para que os votos sejam favoráveis, mas não pode afirmar que haverá convocação antes de votar”.
Conselho de Ética
A sessão do conselho também poderá ser a antecipação de uma acareação com o “rival” Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor da denúncia sobre a existência do pagamento de mesada a congressistas da base aliada. Ao denunciar o “mensalão”, o deputado fluminense afirmou que Dirceu seria um dos protagonistas do esquema.
Na semana passada, Jefferson disse que iria acompanhar o depoimento de Dirceu –que assumiu seu mandato de deputado depois de sair da Casa Civil– da primeira fila e poderá pedir a palavra por dez minutos, de acordo com o regimento da Casa. Conhecido pela sua personalidade forte, Dirceu não deverá deixar provocações sem resposta.