A assessoria jurídica do deputado estadual Mauro Savi, preso ontem de manhã, na Operação Bônus/Bereré, informou, há pouco, em nota, que somente no final da tarde conseguiu ter acesso à íntegra dos autos da investigação, onde Savi é acusado de recebimento de propina de empresas que mantinham contrato de prestação de serviços no Detran – Departamento Estadual de Trânsito-. "Por conta disso, qualquer manifestação será feita somente nos autos do processo após minuciosa análise. Ressaltamos ainda que o parlamentar sempre se manteve a disposição para colaborar com a Justiça e esclarecer os fatos que ora lhe são imputados", diz a assessoria.
"O deputado Mauro Savi confia plenamente na capacidade e imparcialidade das autoridades policiais e do Judiciário mato-grossente e tem a plena convicção de que, assegurado o seu direito de ampla defesa e contraditório, provará sua inocência", acrescenta.
Savi foi ouvido, ontem, em audiência de custódia sendo mantida sua prisão, bem como dos advogados Paulo e Jorge Zamar Taques, e dos empresários José Kobori, Roque Anildo Reinheimer e Claudemir Pereira, que continuam presos.
O Ministério Público apontou que, mais de R$ 30 milhões foram pagos em propina para cerca de 40 investigados (deputados estaduais, empresários e servidores públicos) "do contrato da empresa EIG Mercados junto ao Detran. Segundo o MPE, "a organização era composta por três núcleos autônomos: liderança, operações e subalterno". "Entre os meses de julho e agosto do ano de 2009, quando Teodoro Moreira Lopes o “Dóia” ocupava o cargo de presidente do Detran, foi convocado para uma reunião no gabinete do deputado Mauro Savi com os investigados Marcelo da Costa e Silva, Roque Anildo Reinheimer. "Na ocasião, Marcelo Silva e Roque Anildo ofereceram a Dóia a execução da atividade de registro junto ao Detran dos contratos de financiamento de veículos com cláusula de alienação fiduciária, de arrendamento mercantil, de compra e venda com reserva de domínio ou de penhor dizendo que apresentariam ao então presidente uma empresa para a execução dos serviços sendo essa empresa a EIG Mercados que antes atuava com a razão social Serviços de Registro Cadastro, Informatização e Certificação de Documentos. "A empresa se oferecia a formular contrato administrativo com o Detran para prestar o serviço de registro de contratos junto à entidade. Um dos sócios da empresa a fim de garantir a prestação de serviços ao Detran teria se comprometido a repassar o valor equivalente ao pagamento de um mês às campanhas eleitorais de Savi e do então governador Silval Barbosa".
Ainda de acordo com o Ministério Público, "a promessa, após a efetivação do contrato com o Detran, teria sido cumprida no valor de R$ 750 mil para cada um dos candidatos. Para que a empresa fosse a vencedora do edital na época o antigo presidente do Detran determinou que a comissão de licitações do Detran confeccionasse o edital de licitação nos mesmos moldes que a empresa FLD Fidúcia hoje EIG Mercados já havia vencido no Piauí. Desde então a empresa é responsável por pagar propinas e que, após a assinatura do contrato administrativo, os investigados Mauro Savi, Claudemir Pereira dos santos vulgo "grilo", Teodoro Lopes e outros se organizaram a fim de garantir a continuidade do contrato, formando uma rede de proteção em troca do recebimento de vantagens pecuniárias da parte da FDL, propina na ordem de 30% (trinta por cento) do valor recebido pela FDL do Detran repassado por intermédio de empresas fantasmas que foram criadas em nome dos integrantes da rede de proteção do contrato. Esquema que teve continuidade com a mudança de Governo e a participação de Paulo César Zamar Taques e seu irmão Pedro Jorge Zamar Taques".
Os promotores explicam que, em 2015, quando houve a "sucessão no governo do Estado onde o então governador Silval da Cunha Barbosa deu lugar ao atual governador José Pedro Gonçalves Taques, ao ter informações do esquema de recebimento de propinas operado dentro do Detran, os primos do atual governador Paulo Cesar Zamar Taques e Pedro Zamar Taques com ajuda de Valter José Kobori apropriaram-se do esquema de recebimentos. Em depoimento colhido junto a um dos proprietários da empresa EIG Mercados foi revelado ao MPE que após acertar os pagamentos com a antiga gestão Silval Barbosa a empresa EIG contratou Valter José Kobori como Chief Executive Officer, desde então seria ele a pessoa responsável em receber pessoalmente a propina sob título de BÔNUS pelos serviços pessoais prestados a empresa e repassar o dinheiro para Paulo Cesar Zamar Taques. Segundo o depoimento as negociações foram feitas antes mesmo do resultado das eleições de 2014 onde Kobori já havia combinado com Paulo Cesar Zamar Taques o auxílio para manutenção do esquema", informa o Ministério Público.