O diretório regional do PT, sob investigação de operar com caixa 2, é acusado agora de “lavar” dinheiro na campanha do seu presidente regional Alexandre Cesar, que disputou e perdeu a Prefeitura de Cuiabá no ano passado. É o que indica o depoimento à Polícia Federal do gerente-proprietário da produtora Beta Vídeo, Rodrigo Stabile Piovezan, na última terça-feira.
No documento, obtido com exclusividade por A Gazeta, o empresário confirma ao delegado Renato Sayão o acordo firmado com o PT para a produção de vídeos da campanha eleitoral – leia trechos do depoimento em reprodução nesta página. O contrato previa pagamento de R$ 850 mil, divididos em quatro parcelas.
Conforme Piovezan, somente a nota fiscal 0015, referente à primeira parcela, no valor de R$ 217 mil, foi faturada. Emitida a fatura, o empresário recebeu um cheque com esse valor da conta da candidatura de Alexandre no Banco do Brasil. Em seguida, Piovezan depositou o cheque em sua própria conta corrente. O curioso é que, no mesmo dia, Piovezan efetuou transferência no mesmo valor, em dinheiro, para a conta da campanha do petista. No depoimento, o empresário assegura que não ficou com nenhuma quantia remanescente.
A solicitação para que o empréstimo fosse feito, garante Piovezan, partiu de uma pessoa do diretório municipal, responsável por contratos, de quem afirmou não se lembrar do nome. O empresário fez o empréstimo mediante a assinatura de um contrato mútuo com o diretório municipal. De acordo com o depoente, o PT se comprometeu a pagar os R$ 217 mil “logo em seguida”, juntamente com as outras três parcelas. Enquanto Piovezan afirma que os R$ 217 mil representam empréstimos, o PT cita o montante na prestação de contas como “doação”. Piovezan se comprometeu a entregar ao delegado da PF uma cópia do seu extrato bancário para comprovar a movimentação financeira.
Um advogado com larga experiência na área eleitoral, que prefere não se identificar, explica que a origem do dinheiro entregue pelo PT a Piovezan é questionável. Supõe que o recurso não poderia ser justificado legalmente e, por isso, o partido optou por fazer tal transação. “É bem estranho. O normal é entrar receita e depois realizar despesa, e não dessa forma que fizeram”.
Na avaliação do advogado, o balanço foi “maquiado”. Ele assinala que a Justiça pode entender que a prestação de contas foi fraudulenta. “O dinheiro deve ter origem que não poderia declarar e disseram que foi doação. Pode caracterizar crime na ótica eleitoral”.
Outro lado – Alexandre Cesar foi procurado por A Gazeta, mas não atendeu aos telefonemas e nem deu retorno aos recados. O secretário-geral do PT, Paulo Xavier, o Paulão, não comentou o depoimento de Piovezan. Limitou-se a diz que o partido só dará declarações “aos órgãos competentes”. “Não vou dar declaração. Não vou dar declaração. Não vou dar declaração”, esquivou-se o petista.