Não está livrando quase ninguém: grande parte da bancada federal de Mato Grosso no Congresso Nacional já é vista como suspeita de envolvimento com algum tipo de “delinqüência”, cujo cartel de crimes praticados com o dinheiro público é considerado vastíssimo. Dos 11 parlamentares que formam a representação estadual em Brasília, quatro estão sob investigação pelo próprio Congresso ou pela Polícia Federal e Ministério Público Federal, além de denunciados ao Supremo Tribunal Federal; os outros quatro tiveram seus nomes citados em algum dos escândalos tais como o envolvimento com o “mensalão” ou com a “máfia das ambulâncias”, além de tráfico de influência. Detalhe: todos são candidatos a seguirem na vida pública.
A participação de Mato Grosso nos esquemas e escândalos vem rendendo consideráveis observações. O vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Raul Junngman (PPS-PE) chegou a comentar sobre a “destacada” atuação negativa dos parlamentares do Estado em Brasília, durante passagem por Cuiabá com a CPMI dos Sanguessugas. Em termos percentuais, a turma de Mato Grosso é a maior em casos de envolvimento com algum tipo de delito. Até aqui, se mantém fora do rol dos “enlameados” apenas os deputados federais Carlos Abicalil (PT) e Celcita Pinheiro (PFL), além do senador Jonas Pinheiro (PFL), esposa de Celcita.
Na história política de Mato Grosso nunca uma bancada federal foi tão dilacerada pelos escândalos. O primeiro caso consistente – e que resultou em cassação de mandato – envolveu o político Rogério Silva, de Alta Floresta, que perdeu o cargo de deputado federal após ser condenado por crime eleitoral. Contra ele foi comprovado esquema de compra de votos. Silva ainda orbita em Brasília, sem ter entregue o apartamento funcional que lhe foi destinado por benefício de ser eleito deputado federal. Era o começo de um processo em que os representantes de Mato Grosso no Congresso Nacional passaram a ganhar notoriedade às avessas.
O “turbilhão”, no entanto, veio com Roberto Jefferson, então deputado federal pelo PTB. Do Rio de Janeiro. Ao se defender de participar do esquema de propina no Correios, o político carioca denunciou o esquema do “mensalão” e acusou cabalmente o deputado federal Pedro Henry (PP) de usar a “verba extra” para aliciar deputados de outros partidos. Antes, o senador Antero de Barros (PSDB) vinha sendo acusado de improbidade administrativa e formação de quadrilha, referente ao período em que foi secretário do Governo de Dante de Oliveira.
Henry se livrou das acusações do “mensalão” por falta de provas, em que pese a Procuradoria-Geral da República tê-lo denunciado no esquema: está entre os 40 deputados do esquema, liderado pelo ex-ministro José Dirceu. Henry agora tenta fazer o mesmo com as acusações que partiram da Polícia Federal e Ministério Público Federal quanto a sua participação no esquema dos “sanguessugas”, grupo que atuava com verbas federais alocadas no Ministério da Saúde, através de emendas parlamentares, para compra superfaturada de ambulância. Junto com Henry, estão denunciados os deputados Ricarte de Freitas (PTB) e Lino Rossi (PP). Thelma de Oliveira (PSDB), Teté Bezerra (PMDB) e Welington Fagundes (PL) tiveram seus nomes citados. Mais recentemente, apontou-se o nome da senadora Serys Slhessarenko (PT).
Ricarte também responde a processo por improbidade administrativa e formação de quadrilha e a parlamentar Thelma de Oliveira também. Os demais, são investigados e já tiveram seus nomes citados no esquema dos “sanguessugas”. Todos, evidentemente, são taxativos ao negarem tais crimes. Alguns, irônicos, como a própria senadora petista, que lamenta estar sendo acusada sem saber o teor dos depoimentos dos seus detratores. A CPMI das Sanguessugas, instalada pelo Congresso Nacional, vem trabalhando reservadamente a pedido do Supremo Tribunal Federal.
O esquema das “emendas” – por enquanto centrada nas ambulâncias – se compara, a rigor, com uma avalanche sobre a Câmara dos Deputados e Senado Federal. Nos últimos tempos, segundo levantamento publicado esta semana pela revista “Veja”, nada menos que 130 deputados estão sob investigação.A nuvem da suspeita cobre hoje 22% do Congresso. O levantamento da revista inclui apenas os parlamentares cujos supostos crimes já tenham sido tipificados – seja ainda na fase de investigações do Ministério Público, seja na etapa de denúncia ao Supremo Tribunal Federal.