Dois auditores da Controladoria Geral do Estado (CGE) receberam mensagens ameaçadoras quando realizavam a auditoria dos valores pagos por meio de cartas de crédito a servidores da Secretaria de Fazenda (Sefaz). Os dois funcionários chegaram a registrar boletins de ocorrência relatando o fato. Isso gerou um procedimento preliminar de investigação, fase que antecede a instauração de um inquérito policial.
Os auditores supostamente ameaçados receberam mensagens em outubro de 2011, de terminais telefônicos com DDD 11, de São Paulo. Os dizeres das duas mensagens eram “onde você quer chegar?” e “qual é a sua referência para o futuro?”. Imediatamente ambos ligaram o teor das mensagens ao único trabalho realizados por eles naquela época, por conta da complexidade, que era a auditoria das cartas de crédito emitidas em favor dos agentes fazendários. Eles foram até a Delegacia Especializada de Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz) e registraram as ocorrências. No procedimento preparatório, o delegado que analisou os registros solicitou a quebra de sigilo telefônico dos números usados nas duas possíveis ameaças.
Este não é o único episódio relacionado ao caso, que desencadeou a deflagração da Operação Cartas Marcadas. Em seu acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral (PGR), o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) revelou que determinou a transferência do delegado Lindomar Aparecido Tófoli, na época na Defaz, delegacia que investigava os valores das cartas de crédito. O pedido teria partido do deputado Gilmar Fabris (PSD) e do ex-deputado José Riva.
Além de Tófoli, eles exigiam a saída do então auditor-geral, José Alves Pereira, que chegou a ser comunicado verbalmente por Silval da sua exoneração do cargo, que só não ocorreu porque o ex-secretário Pedro Nadaf interferiu, prevendo que o fato seria prejudicial ao governo.
Em depoimento prestado por outro colaborador, ainda em sigilo, há outra menção a este episódio. Segundo este colaborador, Silval chegou a pressionar Alves para que ele não encaminhasse o relatório de auditoria para as demais autoridades porque evidenciava claramente que os cálculos realizados para a emissão das respectivas cartas de crédito estavam totalmente equivocados e que os prejuízos aos cofres públicos era imenso. Alves não teria cedido às exigências, dizendo que não tinha como alterar o relatório e que iria tomar as providências de praxe.
No final do mês passado, o Pleno do Tribunal de Justiça de Mato Grosso começou a analisar a denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual (MP), por conta da operação. Cinco desembargadores votaram pela rejeição e o processo está suspenso por conta de um pedido de vistas. Fabris nega qualquer irregularidade na emissão das cartas.