A operação Miqueias, deflagrada pela Polícia Federal no dia 19 de setembro de 2013 para apurar crimes lavagem de dinheiro por meio da utilização de contas bancárias de empresas de fachada ou fantasmas abertas em nome de "laranjas", está de uma certa forma ligada à nona fase da operação Ararath que cumpriu 11 mandados de busca e apreensão e seis mandados de condução coercitiva em Cuiabá e Várzea Grande, esta manhã. A movimentação financeira, segundo a PF, foi de R$ 17 milhões, por meio de pagamentos feitos para atender interesses da organização criminosa.
Outro ponto em comum entre as duas operações é o advogado Marden Elvis Fernandes Tortorelli, cujo escritório foi alvo de busca e apreensão na operação Miquéias. Agora, ele foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento na sede da Polícia Federal nos desdobramentos da Ararath que também investiga um complexo esquema de lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro envolvendo políticos com e sem mandato, empresários, advogados e empresas. A Operação Ararath foi deflagrada em novembro de 2013 e agora chega em sua nona fase sem cumprir mandados de prisões.
Diversos inquéritos sigilosos que estão em fase de diligências sendo compartilhados pela Justiça Federal, Ministério Publico Federal e PF apontam que novas etapas da Operação Ararath ainda serão deflagradas. Fontes ligadas à Polícia Federal sinalizam que os alvos serão políticos de Mato Grosso que até o momento não foram citados ou ainda não foram indiciados.
Os crimes investigados nessa etapa têm mais relação com a operação Miqueias do que com a 8ª fase da Ararath deflagrada na semana passada tendo o ex-secretário de Fazenda Eder Moraes como principal investigado. Além de Eder e sua esposa, Laura Tereza da Costa Dias, outras 5 pessoas também foram alvos de mandados de condução coercitiva e depois dos interrogatórios foram liberadas. Cinco mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Cuiabá e Chapada dos Guimarães nas casas de familiares de Laura, de um policial militar e um servidor da Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz).
O modo de atuação dos envolvidos bem como os crimes investigados em ambas as operações são bastante semelhantes. Embora alguns dos “personagens” sejam os mesmos, o objeto de investigação dessa vez nos desdobramentos da Ararath é outro.
De acordo com a Polícia Federal, o objetivo foi desarticular mais um braço da organização criminosa, que, segundo as investigações, estaria adquirindo empresas em nome de terceiros e efetuando os pagamentos através de instituições financeiras clandestinas que até então não tinham sido relacionadas nas investigações. Os crimes atribuídos aos investigados são operações ilegais em factorings, lavagem de dinheiro, crimes contra a administração pública e formação de quadrilha.
No caso do advogado e empresário Marden Elvis Tortorelli, além de ser amigo de Eder, ele também atuou na defesa da mulher do ex-secretário, Laura Dias Moraes, que foi processada na 1ª ação penal da Ararath, mas acabou absolvida ao passo que Eder foi condenado a 69 anos e 3 meses de prisão no regime fechado. Tortorelli é ex-diretor da TV Pantanal, emissora que Eder tinha ligação e chegou a comandar um programa por alguns meses antes de ser preso pela 1ª vez na 5ª fase da Ararath em 20 de maio de 2014.
Nas diligências da Operação em setembro de 2013, documentos relacionados a Eder Moraes, que ocupava o cargo de secretário das Relações Institucionais do governo Silval Barbosa, em Brasília, foram apreendidos pelos agentes federais no escritório de Marden Tortorelli, no bairro Santa Rosa, em Cuiabá.
Tortorelli, em entrevista afirmou que Eder Moraes era apenas seu cliente, assim como vários outros, pois ele na condição de advogado há 20 anos tinha dezenas de clientes. Confirmou, no entanto, que era amigo pessoal de Eder há mais de 2 décadas e já tinha prestado vários serviços jurídicos para ele e seus familiares. Relatou ainda que já tinha sido advogado do Mixto Esporte Clube, quando Moraes administrava o clube de futebol mato-grossense.
Apesar da próxima ligação profissional e pessoal com Eder Moraes, o advogado garantiu naquela ocasião que não era sócio de Moraes e muito menos “laranja ou tangerina” em empresas de comunicação ligadas ao então secretário. Tortorelli admitiu que tinha participação na TV Pantanal. “Não tenho nenhum tipo de negócio com ele, não tenho nada com ele [Eder]. Não sou sócio dele em nada. O que eu tenho é fruto do meu trabalho, tanto é que as pessoas investigam, investigam e não acham nada”, garantiu Tortorelli. Leia mais aqui sobre a Operação Miquéias.
Nesta quarta-feira, ao deixar a sede da Polícia Federal o advogado disse que prestou esclarecimentos sobre sua amizade com Eder Moraes e confirmou que é amigo de Moraes e presta serviços de advocacia ao ex-secretário. A esposa dele, Vera Dias Fanaia, também foi interrogada pela Polícia Federal.
Em nota, o filho de Tortorelli, o também advogado Elvis Antônio Klauk Júnior, disse que ambos foram ouvidos na condição de declarantes para prestar informações a respeito dos envolvidos na Operação Ararath. Garantiu que Elvis e Vera não são réus na ação penal e também não vão comentar o teor dos depoimentos em virtude do sigilo processual que envolve os processos e inquéritos da Ararath.