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Uma história de Cáceres

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Uma das histórias de Cáceres aconteceu nos anos 70 na Rua dos Coqueiros. Conta-nos os registros que um menino nasceu sob as frondosas folhas de uma mangueira e foi amamentado por uma mãe de leite porque, por algum motivo, a mãe verdadeira não tinha leite para sustentá-lo. Cáceres é uma cidade bicentenária e carrega em si inúmeras histórias que, se contadas e registradas, poderia preencher diversas estantes de livros. A Rua dos Coqueiros era cascalhada e cheia de buracos naquela época como ainda é em diversas outras ruas da cidade nos dias atuais. No entanto, era nessa rua que nasceu e, anos depois, se tornou adulto esse plebeu morador que despertou para vida nessa humilde rua.

Ao olhar para aquele menino recém-nascido, poucas pessoas, creio eu, acreditaria que algum dia ele fosse ser alguma coisa. As pessoas dessa época viviam uma vida feliz e sem as preocupações que tomam conta da sociedade moderna. Mas, observando retroativamente para esse fato que remonta há quarenta anos, podemos vislumbrar um cidadão cacerense que dedica sua vida em desenvolver idéias e ações que transformem a sociedade. O lema ajudar e não atrapalhar é que perpassa a vida daquele menino que hoje é um homem feito.

Hoje a Rua dos Coqueiros é asfaltada. Tem uma pracinha na parte do fundo do Estádio Geraldão e outra na parte da frente, inclusive com aparelhos de ginásticas para a população. Ao olhar para as transformações que aconteceram nessa rua podemos constatar que o tempo sempre está em movimento. A sociedade existe antes do nosso nascer e continuara depois de nossa partida, já dizia Charon. Isso é uma lição de vida.

É possível observar nos meios de comunicação uma critica explicita sobre as deficiências da cidade. Na verdade, não há como negar que a cidade tem, e muitas, deficiências. Mas, não podemos deixar de considerar algumas questões que são cruciais para entendermos uma cidade como Cáceres. Primeiro a questão do tempo. Cáceres foi gerada em uma época onde não se preocupava em fazer um planejamento de cidade. Foi estabelecida como uma vila que serviria para estabelecer uma alternativa para as distantes cidades de Cuiabá e Vila Bela da Santíssima Trindade no longínquo Mato Grosso. O Rio Paraguai serviria como meio de navegação e encurtaria as distancias até Corumbá e outras vilas da região do Prata. Eis um contexto que muitos se esquecem (ou até mesmo desconhecem) quando preferem falar mal da cidade. Nessa época, as vilas nasciam nas margens dos rios e a preocupação básica desses primeiros habitantes eram construir uma praça e uma igreja. Não se pensava em saneamento, estrutura e coisas do planejamento atual. Logicamente que, sendo dessa forma a cidade cresceu e hoje tem as dificuldades que todos conhecemos.

Outra questão fundamental para tentarmos entender esse processo diz respeito aos administradores que passaram pelo governo da cidade. Desde os primeiros, podemos observar que a preocupação é com o imediatismo. Isto é, preciso resolver as questões emergenciais. Ao fazer isso, jogam-se os maiores problemas para serem resolvidos futuramente. Acontece que ninguém está disposto a resolver problemas que não resultam em votos. Nesse sentido, passa ano e entra ano, passa governante e entra governante e a situação vai sendo empurrada com a barriga. Depois de mais de duzentos anos a cidade já não comporta mais tanta incompetência administrativa. Mas, a culpa é só dos governantes? Quando eles eram indicados até que poderíamos culpá-los pelo descaso com a coisa pública. Mas, e hoje?

Podemos inferir diversos problemas que assolam a cidade. Falta de apoio político, descaso administrativo, abandono público, enfim. Mas, de uma coisa não podemos esquecer. Cáceres tem história. Uma história bonita. Não se deve, nem de longe, comparar as cidades recentes de Mato Grosso que crescem com planejamento e estrutura e que apresenta um Mato Grosso em ascensão com a princesinha do Rio Paraguai. As outras têm desenvolvimento, tem crescimento, tem planejamento. No entanto, Cáceres tem história.  A forma em que se conta essa história é o que importa. Mas alguém pode questionar: não se vive só de história. De fato. No entanto, pode-se muito bem aproveitar esse fator histórico e transformar a cidade. Onde está à valorização daqueles que valoriza a cidade? Sanguessugas e parasitas vivem a custa do sangue cacerense e são bem tratados enquanto os verdadeiros filhos da terra são deixados de lado.

As imagens recentes de um belo pôr-do-sol às margens do Rio Paraguai caudaloso corre o mundo. São imagens que remonta as maiores obras primas da natureza e revela uma fascinante beleza que perpassa mais de duzentos anos. É preciso saber reconhecer que a cidade tem o seu encanto. Precisamos bater no peito e nos orgulharmos do lugar onde nascemos e vivemos. Além disso, é necessário cobrarmos das autoridades um cuidado maior do nosso patrimônio. E, muito mais do que isso, sabermos escolhermos os nossos futuros administradores e legisladores. Qual o valor que uma pessoa de fora vai dar à história de Cáceres? Pense nisso na hora de exercer o seu próximo voto.

Odair José da Silva – graduado em História e Pós-Graduado em Gestão Ambiental

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