sexta-feira, 26/abril/2024
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Trote é coisa de animal

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Em todo início de ano letivo indignamos com a recepção de calouros nas instituições de ensino superior. O chamado trote é algo inaceitável ao entendimento mediano e ofende a racionalidade humana. Não é crível que discentes em processo de formação profissional se atenham a ridicularizar, ofender, machucar e humilhar quem passou no vestibular e inicia uma nova fase da vida.

As notícias mostram que a selvageria é responsável por atos indignos, estúpidos e revestidos de uma insensatez que não se espera partindo de pessoas que tecnicamente são, ou deveriam ser, mais instruídas que a maioria da população.

Aqueles que o defendem mostram o trote como elemento necessário de integração entre calouros e veteranos. É a coroação de um árduo trabalho de estudos. Então, é um ritual de passagem, a consagração do êxito frente à conquista e a preparação do aluno para os novos desafios ofertados pelo ensino superior.

Outros buscam o politicamente correto e inventam o chamado “trote solidário”, que consiste basicamente em evento sem violência física, na doação espontânea de dinheiro para compra de bebidas alcoólicas, na captação de alimentos e até na doação de sangue.

Como já disse numa conversa com meus alunos, trote, em todas suas modalidades, não é coisa de humano. É de animal. “Andadura natural das cavalgaduras”, como quis o Aurélio em uma das definições. Não concebo integração com imposição e tortura física ou psicológica, e desconheço quem em pleno gozo das faculdades mentais o faça legitimamente.

Integrar é completar, é tornar inteiro, tomar parte, e nenhuma instituição de ensino deve desejar um de seus partícipes humilhado, envergonhado, ofendido em sua integridade física ou emocional para que a ela se integre. As universidades são escolhidas exatamente pelo contrário, por oferecer segurança e uma oportunidade de vida com a ascensão social que a educação pode oferecer.

Por isso, até o chamado “trote solidário” apresenta suas contradições. Ora, se é feito com o consentimento do calouro, então não é trote, é outra coisa qualquer. Se presentes a coação e o constrangimento não será a doação de sangue ou a de alimentos que extirpará a insanidade e a indelicadeza da ação. Saciar a fome ou ajudar enfermos somente será ato grandioso quando realizados por livre e espontânea vontade de quem oferta.

Bom exemplo foi da Faculdade de Educação Física da UFMT, onde a comunidade acadêmica ofereceu um café da manhã aos calouros, com gincanas e jogos. Essa é foi forma inteligente e elegante de recepcionar.

Ademais, é notório que um ambiente saudável propicia amizades profícuas, educação eficiente e qualidade de vida. Quem tem boas e saudáveis companhias não vê necessidade de praticar atividades que atentem contra a dignidade humana.

Franco Querendo é historiador e advogado
[email protected]

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