Eis o tempo de conversão eis o dia da salvação!
Nós, cristãos e cristãs, celebramos todo ano a festa da Páscoa: Morte e ressurreição de Jesus e nossa. É a maior de todas as festas. A mais importante… Por isso, estendemos a sua preparação para quarenta dias. Daí Quaresma, período de quarenta dias, que vai da quarta-feira de cinzas até a quinta-feira santa pela manhã.
A quaresma faz memória do Cristo, em seus quarenta dias pelo deserto revivendo na própria experiência os quarenta anos do povo de Deus. Com ele subimos à Jerusalém, percorremos o caminho da cruz, passamos pela morte até chegarmos a uma vida nova, dom do Pai, pelo Espírito.
É um tempo forte na vida da Igreja, no qual nos preparamos para melhor celebrar a Páscoa, motivados pela Palavra e unidos aos sentimentos de Jesus Cristo, cultivando a oração, o amor a Deus e a solidariedade com os irmãos. É um tempo em que, na tradição da Igreja, os catecúmenos se preparam intensamente para o batismo na noite da Páscoa, isto é, na Vigília pascal.
Nesse tempo, somos chamados a assumir a penitência como método de conversão e unificação interior, como caminho pessoal e comunitário de libertação pascal. É tempo propício para avaliar nossas opções de vida, corrigir os erros e aprofundar a dimensão da ética da fé e realizando ações concretas de solidariedade. É ainda tempo de renovação espiritual, uma espécie de retiro pascal estruturado no trinômio: oração, jejum e esmola, que se traduz em gestos de solidariedade, misericórdia. “O que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente” (Pedro Crisólogo, sec. IV).
As celebrações do tempo da Quaresma são: Quarta-feira de cinzas, através da qual abrimos esse tempo de preparação pascal: “Convertei-vos, e crede no Evangelho!”. Depois, temos cinco domingos da Quaresma, nos quais as comunidades se reúnem para celebrar a presença viva do Senhor que nos mostra o caminho para a vitória definitiva da Páscoa.
E então vem o domingo de ramos, no qual lembramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, onde ele sofrerá a paixão e mergulhará na morte, para depois ressuscitar vitorioso. Ainda, como parte da Quaresma, se celebra na quinta-feira santa pela manhã a missa dos santos óleos.
Durante a Quaresma, além da celebração dominical, é importante criar outros momentos de oração: Oficio Divino, via sacra, caminhada, retiros, celebrações penitenciais, proporcionando à comunidade uma maior experiência da misericórdia de Deus também através do sacramento da reconciliação (confissão).
A cada ano a Igreja do Brasil (CNBB) nos apresenta a Campanha da Fraternidade como itinerário de libertação pessoal, comunitária e social. O tema da Campanha para a quaresma deste ano (2014) é “Tráfico Humano e Fraternidade”, e o lema é inspirado na carta aos Gálatas 5,1: “É para a Liberdade que Cristo nos libertou”. Sabemos que o Tráfico Humano viola a grandeza de filhos, é cerceamento da liberdade e o desprezo da dignidade dos filhos e filhas de Deus. Resgatar essa dignidade, identificar as práticas de tráfico humano e denunciá-lo são objetivos dessa CF. Por isso, cada comunidade deve procurar uma forma de ligar a Campanha da Fraternidade com as celebrações da quaresma, para ser lugar de anúncio, conscientização e também denúncia de tudo aquilo que priva os filhos e filhas de Deus da liberdade conquistada em Cristo.
O tempo da Quaresma vem acompanhado de vários símbolos, atitudes e iniciativas humanas e religiosas que enriquecem e ajudam as comunidades a viverem mais intensamente, por exemplo: as cinzas e a cruz lembram o caráter de penitência e conversão próprio deste tempo, e se manifesta também no visual do espaço celebrativo, sóbrio, despojado. Por isso, no tempo da quaresma se evita enfeitar o local das celebrações com flores.
A cor litúrgica deste tempo é roxa, exceto no quarto domingo, que é conhecido, na tradição da Igreja latina como domingo da alegria, ou “laetare”. Nesse dia usa-se a cor rosa ou róseo.
Na quaresma não se canta Glória e nem o Aleluia. Também é recomendado utilizar o mínimo de instrumentos musicais, para ajudar a comunidade a viver esse tempo de recolhimento, e para isso recomenda-se ainda a omissão do abraço da paz e do bater palmas nas celebrações quaresmais, reservando os cantos mais festivos e manifestações de intensa alegria para a Vigília Pascal e para os outros tempos litúrgicos. Vivamos intensamente esse tempo, caminhando com Jesus, carregando sua cruz e nos preparando para ressuscitar com ele, na alegria da Vida Nova em Deus.
Irmã Maria Helena Teixeira – religiosa em Sinop