quinta-feira, 25/abril/2024
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Radicalismo ameaça sociedade e não ajuda produtores rurais

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Nos últimos dias temos visto uma elevação preocupante no tom dos protestos patrocinados pelos produtores que participam do movimento intitulado ‘Grito do Ipiranga’. A duração e o método empregado nesses protestos superam em muito qualquer coisa antes realizada por outros segmentos – e olha que já vimos absurdos praticados por índios, sem-terra e caminhoneiros em Mato Grosso.

Além de derramar produtos e queimarem máquinas em rodovias federais, os participantes do movimento também conseguiram fechar várias agências bancárias e prefeituras – com ou sem o consentimento dos responsáveis por estas instituições. Por outro lado, integrantes do movimento dizem que pretendem manter os bloqueios nas rodovias federais o máximo possível. Querem usar a inevitável escassez de produtos, decorrente da interrupção no transporte rodoviário, como arma para obrigar a sociedade e o Governo a aceitarem suas reivindicações.

Tudo isso me preocupa muito. Sei da importância do Agronegócio para o Brasil, em especial para Mato Grosso, e reconheço que boa parte dos problemas enfrentados no Campo depende do apoio do Governo Federal para serem superados. Mas, querer tomar a sociedade como refém para forçar uma negociação é errado. Ao invés do resultado desejado, esse comportamento pode gerar um sentimento de repúdio ao movimento.

A saída para a crise, que afeta especialmente os produtores de soja, não está em adotar e amplificar radicalismos que os próprios produtores condenam em atos promovidos por outros segmentos. É preciso maturidade para negociar e, principalmente, humildade para refletir sobre a crise atual de modo a evitar que situações assim se repitam no futuro.

A bem da verdade é preciso lembrar que os problemas no setor rural não nasceram no Governo Lula. Historicamente o setor enfrenta no país pelo menos duas crises como esta a cada década. Parte delas deve-se a questões setoriais – agronômicas ou de mercado. Porém, a maioria pode ser debitada à falta de uma Política Agrícola que reconheça a importância do setor, tanto para a Economia como para a sociedade brasileira.

Parece-me óbvio que, dentro desta reflexão, os integrantes do Grito do Ipiranga avaliem o papel desempenhado pelos políticos que, também a décadas, vêm sendo eleitos com o apoio (econômico, político e humano) do agronegócio.

Sabemos que os a bancada ruralista é a maior do Congresso Nacional – superando inclusive a de partidos formalmente estabelecidos como o PMDB, PT, PFL ou PSDB. Esta bancada, ágil em viabilizar interesses próprios ou de grupos do agronegócio, têm se mostrado espetacularmente incompetente para garantir uma Política Agrícola que atenda os interesses da classe como um todo e, naturalmente, da sociedade brasileira.

Tendo isso em mente, acho que o melhor caminho para o Grito do Ipiranga seria suspender os bloqueios que afetam todos nós e, imediatamente, erguer outros no Congresso Nacional e nas residências dos parlamentares que integram a bancada ruralista. Deveriam também ameaçar bloquear as ajudas de campanha e apoios prometidos para estes políticos no próximo pleito eleitoral.

Aposto que, agindo assim, os produtores atingirão seus objetivos rapidamente e, de quebra, prestarão um serviço inestimável ao povo brasileiro.

Eduardo Ramos é jornalista em Rondonópolis e editor do Primeira Hora

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