Se existe uma coisa que pouca gente sabe, e não procura saber, são os porquês da falta de leitura do povo brasileiro. As respostas são simples: falta de criatividade dos pais e mestres e do interesse dos poderes constituídos. Quanto educadores os mestres deveriam orientar os pais a criar seus filhos, enquanto crianças, estimulando-os à leitura e uma das dicas seria a volta das antigas revistinhas em quadrinho. Na década de cinqüenta, sessenta e setenta, as crianças, ao começarem a aprender a ler, os pais eram motivados a comprar na bancas de revistas, varias revistas em quadrinho. Tio Patinhas, Mickey, Pato Donald, Mandrake, Zorro das selvas, o outro Zorro e seu cavalo Silver e por aí afora.
Outra dica utilizada e que proporcionava um feed-back não menos interessante, estava nas ruas: as placas das lojas, restaurantes e etc… Lembro-me que meu pai vivia apontando para as placas, para que eu lesse os nomes dos estabelecimentos, lojas, restaurantes, oficinas, pensões…, na cidade de Montes Claros, norte de minas . Era uma placa aqui, outra ali, mais outra acolá, e assim íamos, eu lendo uma a uma. Sem saber, ele me instigava ao hábito da leitura. E o que era ainda melhor, eu passava a conhecer a minha cidade tendo, inconscientemente, pontos de referencia para localização de determinados endereços, quando precisasse.
Num segundo momento havia ainda, na fase pré-adolescente e adolescente, o cinema que tinha, às quatorze horas, as matinês aos domingos, onde os super-heróis como Batman e Robin, Tarzan, Zorro, Hercules, dominavam as telas infanto-juvenil. Lembro-me que meus pais só me davam o dinheiro da matinê de domingo, se eu fosse à missa das sete da manhã na Catedral. Moral da história: não perdia uma missa. Eu chegava ao cinema, uma hora antes do filme começar, pois tinha que trocar as revistas em quadrinho que eu já tinha lido, por outras. Afinal, não era todos os dias que o pai dava dinheiro, principalmente se eu aprontava alguma durante a semana.
Com o tempo a leitura atingia graus mais consistentes com autores de peso. O estímulo à leitura continuava durante a fase adulta, considerando que as faculdades, independentemente do curso, trazia no seu currículo, a disciplina psicologia. Quer queiramos ou não, a psicologia ensinava o cidadão a pensar, a saber os porquês das coisas. Como surgiu isso? Como surgiu aquilo? Por que isso ou aquilo existe? A realidade do mundo atual é caótica, pífia e inglória. Grandes autores como Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rêgo e tantos outros nacionais, bem como estrangeiros do naipe de Pablo Neruda, Agatha Christie saíram de cena.
As mudanças continuaram. Os governos ditatoriais da época retiraram dos cursos superiores, a disciplina psicologia. O povo estava fadado a crescer, impiedosamente, analfabeto e ignorante. Onde já se viu condenar uma nação a não pensar? Pra não dizer que miséria pouca é bobagem, criaram no Brasil o Ato Institucional número cinco (AI 5), que censurava a imprensa. Dá pra imaginar o grau de incompetência e de atraso dos nossos governantes à época?
Na década de setenta, começou, para o Brasil, uma nova era: “a era dos computadores”. O hábito à leitura do povo brasileiro se já não eram bons, ficaram ainda piores. Não é por nada não, mas se uma televisão é capaz de bitolar, prender, limitar conhecimentos de uma pessoa, imagina o computador, que é programável. Querem melhor exemplo que os vídeo-games?
Se, para reconstruir o Brasil por meio da leitura é um fato quase impossível, principalmente por que estamos – considerando as exceções – sendo governados por um bando de elementos ou indivíduos que assumem o poder para desmoralizá-lo e descaracterizar sua moral, convoco o povo brasileiro a chamar pelos nossos super-hérois do passado, para que possamos resgatar a credibilidade e o respeito de nosso povo.
Gilson Nunes é jornalista