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Político que coça, abunda

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Fico preocupado quando vejo político que coça, coça, caça, caça e, muitas vezes, não encontra algo de mais útil para fazer. Depois do grande seminário realizado no Sesi há alguns dias – e que resolveu todos os nossos problemas – o tema de maior importância em Sinop agora é a desapropriação do antigo restaurante O Colonial. Município rico é assim. Na falta do que fazer com o dinheiro que deve estar sobrando, invista-se num museu. Não tenho nada contra museus. Só acho que museu, no momento, não é prioridade.

Concordo e defendo que nossa memória deve ser preservada. Mas isso já é feito pela Casa da Cultura, tão bem arquitetada e dirigida pelo professor Luiz Erardi e sua equipe. O professor Luiz e vários outros são testemunhas do meu compromisso com a memória de Sinop. Assim como o são os vários folhetos, cartazes, vídeos, jingles e revistas que fiz para “vender” a cidade e seu potencial. Professor Luiz e eu começamos esse resgate ainda em 1989, quando ele era chefe de Gabinete da Prefeitura e eu, assessor de imprensa. Antes, em 1986, o próprio professor Luiz, então Delegado de Ensino, realizara com a professora Tânia Pitombo e outros, a primeira Noite Cultural de Sinop. Onde? No Colonial.

Tenho, portanto, profundo respeito pela história de Sinop, e profundo sentimento pelo Colonial. Ali foi realizada a cerimônia da minha formatura no Segundo Grau, em dezembro de 1984. Quase desistimos do lugar, pois em suas escadas, uma semana antes, um irmão de um grande amigo meu quase morrera esfaqueado – foi salvo pelos médicos Kato, Adenir e o saudoso Israel, no então Hospital Celeste. Foi também ali que, várias vezes, ao lado de brilhantes colegas da Rádio Celeste, acompanhei e transmiti vários e importantes acontecimentos para Sinop e região. A segunda visita do presidente Figueiredo, em 6 de dezembro de 1984, quando inaugurou a chegada do asfalto da Br-163, foi um desses acontecimentos. Foi também nele que Figueiredo, já fora da Presidência, foi recepcionado com um jantar, em junho de 1988, quando veio receber o título de cidadão sinopense. E vários e vários almoços e jantares para recepcionar e enaltecer ilustres visitantes. Na calçada de pedriscos de sua entrada Ricarte, certa vez, gravou o então deputado Massao Tadano em suas Catilinárias com o então vereador Waldemar Brandão. No fundo da entrevista dava para ouvir Ricarte e Massao caminhando. Delícias do Colonial? Os pratos do Kilograma, a feijoada do Moacir do Bon Marchê e o salpicão do chef Zezinho, moço que Enio Pipino trouxe de Maringá especialmente para fazer inúmeras delícias para os ilustres visitantes de Sinop.

A construção do Colonial foi uma brilhante a idéia do Seu Enio e sua equipe. Conceberam um belo ambiente, harmonioso. Seus janelões até hoje dão inveja a muitos moradores que não conseguem escapar dos caixotões de concreto e vidro da “modernidade” e que precisam de “climatizadores” para dar “conforto térmico”. Seria muito bom preservá-lo. Mas a questão é: a prefeitura tem condições de bancar a conta? Temos UTI funcionando? A dengue está sob controle? Há remédios suficientes nos postos de saúde? Há dinheiro para implantar o distrito industrial? Há dinheiro para investir na geração de emprego e na qualificação da nossa mão-de-obra? Se não tiver recursos, é muito mais produtivo que a prefeitura faça belas fotos e filmagens do Colonial para guardar de lembrança e deixem-no seguir o seu destino, como todas as coisas da Natureza: nascer, viver e morrer.

Sua sobrevivência é um luxo que o contribuinte sinopense não pode bancar. Os impostos que pago eu não gostaria que fossem usados, no momento, nesse tipo de investimento. Mas o assunto rende boas fotos e bons espaços na mídia. Como bem rendeu o seminário de dias atrás. Enquanto isso, não se consegue nem tapar as crateras da Br-163 – uma delas engoliu meia pista próximo a Peixoto de Azevedo bem no dia do seminário. Agora, outra engole meia pista entre Sinop e Sorriso. Fico pensando se uma parte do dinheiro gasto com o “grande” seminário não teria dado para resolver o problema da primeira, com sobra para a segunda. Fico pensando porque nossos “representantes” não resolvem um problema de cada vez, em vez de ficar sempre fazendo encontros, reuniões e mais reuniões para discutir vários assuntos que nunca são resolvidos. Posso estar errado, mas penso que isso ocorre porque problemas resolvidos de vez aparecem apenas uma vez na mídia e consomem dinheiro público apenas uma vez. Dúvidas? O “grande” seminário foi tão bom para seus organizadores que resolveram levar a idéia para outras regiões de Mato Grosso. O Colonial é testemunha de muitos encontros, reuniões e reuniões que deram em nada. Testemunha até de casamentos que possivelmente já tenham sido desfeitos. Talvez esteja, mesmo, na hora de O Colonial dar lugar a algo mais promissor para Sinop. E, para não dizer que não falei das flores, fica aqui a sugestão para que os novos investidores do local banquem sua preservação ou sua mudança e reconstrução em outro espaço.

Leonildo Severo da Silva, advogado em Sinop-MT
[email protected]

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