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Os sinos da catedral

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Sinop tornou-se sem dúvida mais bela, mais atraente, um verdadeiro cartão postal com a construção do conjunto arquitetônico da Catedral, contudo, não obstante a realização da obra a fé de seu povo não aumentou. A fé e a humildade certamente não são compatíveis com o luxo e a ostentação e não estão incrustadas em castelos, palácios ou catedrais. A Catedral de Sinop constitui uma das mais belas de Mato Grosso e do Brasil, mas está divorciada de seu objeto e de seu contexto histórico e religioso. Mais serve à ostentação de poder do que à religiosidade de sua população e da humildade pregada por Cristo ao longo do seu ministério. Veja em Mateus 5:3 “Bem aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”.O que poderia exemplificar melhor a sua humildade senão quando nasceu em uma gruta, sem um teto sequer, como um errante: Lucas 2:12 “… achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura”.
Em uma outra passagem bíblica vemos o divino mestre incendiado pelo fogo do amor e da humildade, essa é a essência do seu apelo irresistível quando diz em João 13: 16-17: “Em verdade, em verdade vos digo: que o servo não é maior do que seu senhor. Se compreenderdes estas coisas sereis felizes, sob condição de as praticardes”. A aparência padece da essência. E se não bastassem todas essas contradições à cerca de seu objetivo maior, que pressupõe seja a doutrina do amor e da humildade, a catedral não tem sinos e é sobre isso que quero falar:
Onde estarão os sinos da Catedral? Uma igreja sem sinos é como um jardim sem flores. Não há alegria e triunfo e sequer vida. Não ouvimos os sinos tocarem, nem mesmo sua musicalidade e os alegres sons de felicidade, bem disse Nietzsche que, “a vida sem música seria uma tragédia”.

Toda a nossa vida está intimamente ligada à música e os sinos são poderosos instrumentos musicais, lembro-me quando da minha perdida e afastada infância ouvia o dobrar dos sinos da igreja e meu pequeno coração se alegrava e alçava vôos de esperanças e pensava que Deus estaria nos chamando para receber o pão da vida e o congraçamento do amor eterno. Tais eram os sinos da igreja um poderoso elemento de união vivificante, um chamariz de alegria e encantamento evocando a presença de Deus em nossas almas e caminhávamos felizes ao encontro da porta do paraíso.
Quem de sua infância se esqueceu dos sons dos sinos a ecoar pela solidão da alma, transportando-nos a novos mundos. Esse pensamento permeia minha vida até hoje, entretanto, não ouço mais os sinos dobrarem. Onde estarão os sinos da catedral? Haveremos de perguntar se com tanta beleza, poder, pompa e sem sinos fora construída para o rebanho de Cristo, o povo excluído, humilde e sofredor? Hegel bem definiu a humildade como sendo “a consciência de Deus e da sua essência como amor”. Quanto maiores sermos na humildade, tanto mais próximos estaremos de Deus. A igreja perdeu-se no caminho.

Hoje vivemos em um outro mundo, da beleza aparente, a igreja se modernizou, construíram-se verdadeiras obras colossais sem vida, esqueceram da simplicidade e perdera-se a essência, os sinos que iluminam com seus sons celestiais, mundos mais afastados e noites mais escuras. Os sinos que nos devolve a felicidade perdida. O que amo na igreja são os sons mágicos dos sinos e os cânticos, já que a palavra mata a música e os sermões, exceto o da montanha, são vazios e sempre destituídos de sentido.
Por isso repito aqui o que o poeta heterônimo já dissera em tempos pretéritos: “… cessa a tua palavra, deixa que a música, a beleza sem palavras ou catecismos evangelize o mundo”.Toquem os sinos da catedral todos os dias, façam-nos mais felizes, outra coisa não é necessária. Deus é beleza. Deus está na música.

César S. Santos, é servidor público, geógrafo e advogado formado pela UFMT. [email protected]

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