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Os esqueletos e a Comissão da Verdade

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Bastaram alguns avanços sociais importantes no Brasil, como a consolidação do processo democrático e a criação da Comissão da Verdade para que esqueletos da ditadura começassem a tentar nos assombrar, saindo vagarosamente do armário arrastando velhas correntes e bandeiras da ultradireita.

E são eles: (i) alguns dos atuais generais e oficiais de alta patente agora de pijama e que até ontem eram os oficiais de baixa patente, torturadores dos porões da ditadura; (ii) alguns “intelectualóides blogueiros” como Luiz Felipe Pondé e que até ontem eram os pelegos engajados e que perderam suas boquinhas com saída dos generais do poder; (iii) alguns juristas ortodoxos e que vendiam, ou trocavam por favores, seus pareceres pela constitucionalidade dos Atos Institucionais e de outras leis exorbitantes como a lei de imprensa; (iv) alguns magistrados, membros do ministério público e delegados que davam sustentação jurisdicional às ações dos carrascos do DOI-CODI e DOPS; e (iv) os seus discípulos anencéfalos de sempre, que colaboraram e ainda colaboram na divulgação de suas teses neonazistas.

E nesse rol incluo também alguns críticos das várias gestões civis que se seguiram após a redemocratização do Brasil, alguns membros de partidos, hoje, ditos de oposição ao governo federal, tais como PSDB e PPS (que, felizmente, ainda mantém em seus quadros valorosos militantes que atuaram contra o regime de exceção), e que, têm, por conta do duro enfrentamento político com o PT, mantido diálogo e um flerte perigosíssimo com essas alas direitistas extremadas, fornecendo, portanto, oxigênio novo a esses verdadeiros mortos-vivos. Mas tenho certeza, esses serão os primeiros a sofrerem as graves consequências de um eventual retorno dos anos de chumbo e a história e os fatos não os perdoarão.

E, desde a redemocratização, nunca foi tão grande o espaço dado a essas criaturas saídas das catacumbas mais sombrias da política brasileira.

Vejam, há um claro recrudescimento de suas ações, principalmente na internet, e que precisa ser imediatamente combatidas e até tolhidas. E não se trataria de censura, pois a forma de pensar e de agir desses setores ultraconservadores não é compatível com a vida democrática e republicana que, às duras penas, conquistamos. Pois esses indivíduos não têm limites no uso da força e da violência (vide as torturas e mortes havidas durante e após o GOLPE de 1964).

Eles não têm respeito algum pelos direitos humanos, e, o que é o pior, não têm respeito pelo próximo, principalmente ao próximo: da miséria, do analfabetismo e ignorância, das favelas e das palafitas.

Proximidade mesmo só admitem se for com as elites e suas confortáveis conveniências.

Pergunta-se: como podemos acolher no seio social pessoas que enxergam na pobreza apenas a fraqueza dos que não querem trabalhar?

São pessoas que não admitem o fracasso de ninguém, não querem escutar as agruras e as justificativas de ninguém, pois são incapazes de enxergar os seus próprios fracassos. São pessoas que não aceitam ouvir o porquê de uma mãe precisar do bolsa-família, mas, no entanto, são incapazes de perceber que ninguém é obrigado a ouvir também as suas justificativas e os seus porquês: (i) de ser um advogado, mas não ser o melhor advogado do mundo; (ii) de ser um médico, mas não ser o mais respeitado médico do mundo; (iii) de ser um empresário bem sucedido, mas na ser o mais bem sucedido do mundo; (iv) de ser jornalista, mas não ser o que mais conquistou prêmios no mundo; e (v) de ter sido general, mas na ter chegado à presidência do país.

Todos esses extremistas terão as suas justificavas, suas chorumelas, suas lamurias e suas lamentações e esperarão que às ouçamos, mas se negarão veementemente a ouvir os porquês de uma família pobre que precisou invadir um terreno ou um prédio – que não exercia a sua função social – para fixar sua moradia ou escutar os choros de um pobre coitado que não conseguiu chegar a apreender a escrever o seu próprio nome. Para esses ungidos, esses pobres diabos não têm o direito à justificativas, pois seriam vagabundos por natureza.

E por falar nas angustias de cada um e para não esquecermos do quão brutal foi a ditadura, lembremos o que disse, certa vez, uma das mais altivas vítimas desses terríveis algozes: "Uma existência, por mais vitoriosa que seja, não deixa de ter sido amalgamada com sofrimentos e lutas. Entretanto, cumpre-nos apagar esses ressentimentos e amarguras com os nossos triunfos. Só assim o exercício da vida se engrandece." – Juscelino Kubitschek.

Nosso papel neste momento é deixar claro que não temos medo da verdade, de esqueletos e nem de fantasmas.

Adamastor Martins de Oliveira
[email protected]

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