O historiador e cientista político Paul Kennedy no final dos anos 80 escreveu um livro que iniciou uma discussão que ainda perdura até hoje nos meios intelectuais, políticos e diplomáticos. O título de sua obra é "Ascensão e queda dos grandes impérios". Muito bem documentado e também elaborando cenários, o referido autor demonstra que todos os grandes impérios ou potências dominantes em algum momento de sua trajetória acabam sucumbindo e dando lugar a uma nova potência que passar a assumir a hegemonia mundial. A duração dessa hegemonia parece que cada vez está ficando mais curta. Alguns impérios dominaram o cenário mundial (reduzido para suas épocas) por mais de mil anos e com o passar do tempo esta dominação foi ficando mais reduzida. Exemplo típico foi o esfacelamento da então toda poderosa URSS cuja hegemonia bi-polar durou em torno de cinco décadas, cedendo lugar a hegemonia americana como única superpotência, principalmente nos aspectos econômicos, tecnológicos e militares.
No período imediatamente após a segunda guerra mundial os EUA firmaram-se como a potência hegemônica, principalmente pela situação em que se encontravam os demais países que exerciam influência no cenário mundial. Franca, Japão, Itália, Alemanha, Inglaterra e também a Rússia haviam sofrido enormes perdas de recursos humanos, econômicos e também estavam com a infra-estrutura totalmente destruída.
Neste contexto e em meio a várias guerras, revoluções e conflitos localizados, os EUA acabaram consolidando sua hegemonia. Todavia, acabou pagando um preço muito alto. A projeção de poder por parte das superpotências além de consolidar a presença política, econômica, cultural, ideológica e militar também tem um custo direto quando as mesmas decidem intervir em várias guerras. No caso dos EUA basta mencionar as guerras da Coréia, do Vietnam e mais recentemente as duas guerras no Iraque e outra no Afeganistão.
O custo dessas guerras é muito elevado, são trilhões de dólares utilizados para as ações de combate e também para o desenvolvimento do complexo industrial militar. Mesmo que isto também tenha seus reflexos positivos momentaneamente, gerando emprego, promovendo o desenvolvimento científico e tecnológico e distribuindo renda internamente, como modelo de ação política interna e externamente tem suas limitações.
Parece que a última crise econômica e financeira de 2008 que ainda permanece latente tanto nos EUA e na Europa demonstra o esgotamento de tais modelos que são finitos, diferente do que muitos estudiosos imaginavam até recentemente.
As falências e dificuldades dos grandes conglomerados americanos e europeus acabaram exigindo uma intervenção direta dos respectivos governos e contribuíram para o agravamento da crise através do acelerado endividamento publico gigantescos déficits orçamentários e recessão econômica, aumentando o desemprego e reduzindo a capacidade tributária da sociedade.
É neste contexto que a pobreza nos EUA ressurge com uma face cruel. Desde 1959 quando o Bureau do Censo americano iniciou a coleta de dados sobre pobreza esta é a pior fase da realidade social americana. Pode parecer contraditório. Enquanto as dez maiores fortunas individuais representam mais de 250 bilhões de dólares, valores maiores do que o PIB de dezenas de países, em 2010 nada menos do que 46 milhões de pessoas estavam vivendo na pobreza e este contingente tende a aumentar caso os índices de crescimento econômico continuem baixos ou o país entre em recessão.
Em uma próxima oportunidade vou detalhar os números da pobreza e desemprego nos EUA e refletir sobre as conseqüências desta realidade tanto internamente quanto ao redor do mundo. Afinal, os problemas que afetam uma superpotência acabam também repercutindo nos demais países e na vida das pessoas, por mais simples que sejam!
Juacy da Silva, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, ex-diretor da ADUFMAT, ex-ouvidor Geral de Cuiaba, mestre em sociologia, colaborador de Só Notícias