Tudo leva a crer que as eleições de 2012 no EUA deverão ser decididas em torno das questões econômicas em geral, do desemprego e da pobreza em particular, muito mais do que das questões externas, incluindo o terrorismo e as guerras, como ocorreu há quatro anos.
Muitos analistas e estudiosos da dinâmica política, social, econômica e estratégica dos EUA, como Jeffrey D. Sachs e Frank Wolff, tem contribuído neste debate demonstrando que a crise americana é muito mais do que uma crise financeira, uma crise fiscal, uma crise imobiliária ou uma crise de governo. É na verdade uma crise do sistema capitalista em geral incluindo não apenas os EUA, mas também a Europa e os países capitalistas da Ásia com destaque para o Japão e a Coréia do Sul. Ou seja, é uma crise geral do modelo de desenvolvimento e crescimento econômica que está chegando a uma fase de exaustão.
Isto nos leva também a refletir de forma mais profunda sobre a réplica do mesmo modelo que vem sendo adotado pelos países em processo de desenvolvimento tardio, incluindo o Brasil e demais países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Até a eclosão e agravamento da atual crise, que é o ápice deste processo, muita gente imaginava que o crescimento econômico,da forma como tem acontecido, não teria limite ou então que, uma vez atingido um patamar de acumulação de riqueza e bem estar os países jamais pudessem regredir, entrar em recessão prolongada, estagnação e decadência, onde a pobreza e o desemprego voltassem a condição de fantasmas a aterrorizar a população e os governantes.
Os atos terroristas de 2001, há dez anos, as guerras no Iraque e no Afeganistão, a quebradeira de bancos e empresas, o estouro da bolha imobiliária ocorrida a partir de 2007 apenas apressaram ou aprofundaram o tamanho da crise.
É neste contexto que podemos afirmar que a atual crise é estrutural (do modelo de desenvolvimento) e não apenas conjuntural ou localizada, razão pela qual a totalidade dos países do primeiro mundo está neste sufoco. É neste contexto que devemos situar o desemprego, o ressurgimento da pobreza como a face cruel de um mundo onde a opulência, a mobilidade econômica e social pareciam não ter limites.
Dados estatísticos em séries históricas demonstram que durante quase um século ocorreu aumento real do poder de compra da massa de salários, base para o processo de melhoria da qualidade de vida e bem-estar da população e o surgimento de uma vigorosa classe média. Este ciclo foi encerrado em meados da década de setenta. A partir de 1973 o aumento real de salário foi sendo corroído pela inflação, o que obrigou ao aumento geral da jornada de trabalho para compensar a perda do poder aquisitivo do salário.
A partir desta fase verifica-se um aumento acelerado da produtividade, graças ao avanço científico e tecnológico que passou a ser apropriado pelo setor econômico e empresarial como forma de evitar que seus lucros fossem reduzidos.
Complementarmente, para garantir a expansão dos mercados e do lucro empresarial ocorreu o processo de globalização a nível mundial, estimulado pelas grandes corporações americanas, européias e japonesas, ao lado da facilidade de crédito (um acelerado endividamento pessoal e familiar) para a aquisição de bens de grande valor como casas e carros principalmente.
Os índices atuais de pobreza nos EUA chegam a 15,1% da população, com um contingente de 46,2 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza. Em termos percentuais é menor do que em 1959 quando chegou a 22,1% (39 milhões de pessoas). Vale destacar que os índices de pobreza têm variado entre 11.5% em 1975; 15,2% em 1983; 15,1% em 1993; 11,3% em 2000; 14,3% em 2009 e, finalmente, 15,1% em 2010.
O ressurgimento da pobreza como fato social, econômico e político nos EUA está atrelado ao crescimento do desemprego e as crises econômicas e financeiras que ocorrem tanto na sociedade americana quanto em diversos países em decorrência do efeito cascata em um mundo globalizado. O Brasil também tem que colocar as barbas de molho, antes que seja surpreendido com crise semelhante (a do modelo de desenvolvimento de capitalismo tardio).
Voltarei ao tema oportunamente com mais dados e reflexões sobre esta realidade paradoxal de opulência e pobreza nos EUA e demais países desenvolvidos!
Juacy da Silva – professor universitário, mestre em sociologia, colaborador de Só Notícias [email protected]