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Onde foi que eu errei

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A futura mãe espera por nove meses a chegada do seu príncipe. Após seu nascimento ela só tem olhos para ele/a. Até o marido e o irmãozinho mais velho costumam ficar de fora. Quando o marido pega o pimpolho no colo, vem logo mil recomendações: – Cuidado! Segura a cabeçinha dele! -Você está segurando ele torto, vai ofender a coluna. De repente vem a ordem expressa: – Dá ele aqui, vai. -Homem não tem jeito pra estas coisas. E mesmo com todos estes atropelos, o pequenino continua dormindo o sono dos justos. O irmão mais velho, se chega perto e se aventura a pegar na mãozinha ou em qualquer outra parte do corpo do irmãozinho/a, é rechaçado imediatamente com dizeres do tipo: -Sai daqui vai! Não vê que você pode machucar seu irmão? Vai brincar; anda, puxa daqui. E a única alternativa do pequeno rejeitado/a é sair dali rápido para não acontecer o pior. (Excesso de cuidados com um, falta de consideração com o outro. Mas espera pimpolho; deixa chegar o próximo irmão. Aproveite ser feliz enquanto você pode).

Esta é a fase do namoro, com o mais novinho, é claro. Dedicação exclusiva. Defende o seu novo amor com garras e dentes. É a força do instinto materno de proteção se manifestando. Quem ousa se aproximar do pintainho de uma choca! Está sujeito a bicadas, golpes de asas, chutes com os dois pés ao mesmo tempo.

As cólicas terríveis na madrugada ela suporta. Fazer o quê! (o marido suporta junto, calado). Às vezes tenta ajudar.
Apesar dos transtornos o bebê cresce, dá risadinhas, sustenta a cabeça, senta com apoio, nasce os primeiros dentinhos (fase do coelhinho), rasteja, engatinha. Fica cada vez mais independente. Tem curiosidade pra tudo. Quer conhecer, pegar, deixar cair, palpar, sentir com as gengivas, morder o máximo de novidades onde tudo é novidade. Afinal, ele/a mal acabou de chegar! Ainda não conhece nada. Tem curiosidade para conhecer de tudo. E é assim que deve ser.

É quando ele começa ouvir os primeiros “não pode”. Não pode isso, não pode aquilo. Surgem os primeiros tapinhas nas mãos, nas perninhas. Choro sentido, biquinho. A mãe ainda sente pena, corre e pega nos braços: -ô coitadinho, a mamãe assopra no dodói!

Passada esta fase intermediária dos “entre tapas e beijos”, muitas mães se distanciam cada vez mais dos pequenos. Não andam mais de mãos dadas, não há troca de beijos, de abraços, acabam as brincadeiras descontraídas.
O amor que era de mão dupla, agora parece só partir do pequenino. Tem o coração enorme, amor incondicional pela mãe, pois logo após ser maltratado, por qualquer motivo puxa prosa como se não lhe tivesse acontecido nada de ruim.

Que ótimo se este relacionamento continuasse a ser carregado de amor, carinho e compreensão desde quando o filhinho/a começasse a se mostrar independente, ao ampliar cada vez mais sua área de exploração. Agora sim, ele/a pode ir até ao objeto de desejo usando suas próprias pernas, pegá-lo, deixá-lo cair, ouvir o barulho, achar graça ou ficar com medo, cheirar, colocar na boca e sentir o sabor, fazer careta, se encantar com as cores, andar, cair, sentir que isso dói. Os adultos chamam de arte este conjunto de experiências. A criança é como o funcionário mais interessado da firma: Tem muita energia, é irrequieto, quer fazer, aprender, experimentar. A criança é uma empreendedora mirin.

Não deixe atrofiar estas qualidades que toda criança traz consigo desde o nascimento. Perca tempo com ela, seja paciente, não se acomode, corrija os desvios e excessos sem usar qualquer tipo de violência, devagar, repetindo quantas vezes forem necessárias até que aprenda. (quantas vezes “apanhamos” antes de aprender algo, apesar de toda esta nossa experiência de adulto!)

Se você se justificar dizendo, que sem dúvida esta é uma boa maneira de educar, mas que dá muito trabalho, que você não tem paciência, que nada melhor que umas palmadas para resolver uma manha, que está cansada, que chega irritada do trabalho, que não tem tempo, que não tem jeito para dar carinho, que o filho ficou muito traquina e só quando toma uns tapas ele toma jeito, que paga babá pra cuidar e pelo preço que cobram deveriam entender dessas coisas…, pense bem antes de encomendar o próximo. Com este perfil, é bom mesmo não tê-lo. Criança não é um objeto que você só tem para sua satisfação pessoal e obrigado a se submeter à sua maneira própria de ser.

Frases que jamais devem ser usadas ao referir-se ao filho ou à filha:

. Sai daqui seu/sua imprestável.
. Cala a boca já.
. Se fosse seu irmão/ã garanto que ele/a já tinha feito isso.
. Você não serve pra nada mesmo.
. Vou contar tudo pro teu pai quando ele chegar; você vai ver só.
. Eu não gosto de você.
. Vai brincar vai; deixa de me encher a paciência.
. Faz o que eu mando e fica na sua.
. Você não consegue fazer nada direito, heim!
. Sai daí logo, anda! Deixa que eu faço, você não sabe.
. Não quero te pegar no colo, estou cansada; vai brincar vai!
. Se não parar de chorar vou chamar o farmacêutico pra te aplicar uma injeção.
. Come tudo senão te bato.
. Puxa daqui; não tá vendo que você pode machucar seu irmãozinho!
. Pára quieto senão vou embora de casa e te deixo sozinho aqui.

Você, mãe, pai, não imagina o tamanho da ferida emocional que uma frase dessas causa na mente do filho ou da filha de vocês. É uma ferida invisível que demora cicatrizar. Às vezes não cicatriza, motivado pelas agressões contínuas e que a mantem aberta, crônica. Seus efeitos devastadores no comportamento costumam se manifestar na adolescência, traduzidos por malcriações, grosserias, isolamento no quarto, alienação (ao ficar muito tempo com fones de ouvido, vendo TV, jogando videogame), mal comportamento na escola, sem ânimo para cumprir com suas obrigações escolares, dorme tarde da noite, dá trabalho para se levantar da cama, agressivo em casa, agressivo com os professores, farrista em classe, sem um projeto de vida, sem um sonho a perseguir, desistência das iniciativas assim que surgem as primeiras dificuldades. Em muitos casos, nunca foi exigido nada do filho(abandono), sempre teve o que quis(falta de limites), nunca aceitaram que passasse pelo menor contratempo emocional.(criança de redoma). A omissão é um tipo de abandono.

Jovens com estes temperamentos podem estar disponíveis, susceptíveis, indefesos, com a guarda pra baixo, o que os predispõem a se deixar envolver em ilícitos de toda natureza. É questão apenas de surgir a oportunidade. Na adolescência, os filhos tendem a se afastar dos pais e se aproximarem dos amigos e do sexo oposto. É o primeiro ensaio para a saída de casa, são os primeiros vôos dos filhotes. Se enturmam, mas ainda voltam pra casa. Os hormônios da sexualidade estão chegando; solicitam do jovem procriação, uma companheira. Surgem as primeiras paixões. Novas verdades. É nesta fase que as complicações que já existiam, se multiplicam.

E enquanto os pais acharem que a escola é a responsável por desvios do filho que deveriam corrigir, mas não o fez, e que teimam em não reconhecer que deixaram de fazer a sua lição de casa desde quando o filho/a era pequeno (respeito, bons exemplos, ensinar gentilmente quando ocorriam os erros, maior aproximação e dedicação, exigência de responsabilidades, limites sem usar violência verbal ou física), a maioria dos nossos jovens continuará a ser o que eles são hoje, justamente do que os pais reclamam tanto.
Muitos adultos poderiam ser mais felizes, renderem mais, se relacionarem melhor, no entanto, existe dentro deles algo distorcido e ruim que força seu comportamento ser diferente. Nem eles sabem explicar. Acham, coitados, que eles são assim mesmo, nasceram com isso, do nada!

Tenho a convicção de que os pais, mais do que ninguém quer que os filhos sejam felizes. Nenhum pai, nenhuma mãe quer o mal para o filho. Todos nós queremos que a criança de hoje seja uma feliz vencedora no amanhã. Torcemos para que cada família entregue para a Sociedade, para o País, para a futura família que se constituirá , uma criatura com bons projetos, empreendedora, sem ranços de criação, capaz de amar-se (auto-estima elevada), e que os pais, durante a criação da mesma, dêem motivos de sobra para esta criatura sentir durante toda sua vida gratidão pelo carinho e consideração recebidos durante o tempo em que esteve em casa, no seio do Lar.
O objetivo deste artigo é alertar os pais para uma possível necessidade de mudança de rumo na criação do filho/a, ou apenas pequenos ajustes, qualquer que seja a idade dele/a.
Nunca é tarde para tentar acertar.

Carlos Eduardo Almeida Vieira é médico pediatra em Sinop.

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