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O sentido de ser cuiabano

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Os costumes e o modo de viver em Cuiabá é uma coisa mágica, e que aqueles que não nasceram aqui, jamais vão entender, o porquê das pessoas que nascem aqui estar sempre bem humoradas e voltadas para o “viver feliz”.

O cuiabano pode ser definido como uma pessoa alegre e que encontra prazer nas pequenas coisas que este lado de mundo lhe ofereceu. Viver mais de dois séculos segregados e isolados do resto do país foi sofrido, por um lado foi ruim, mas por outro lado foi muito bom porque se preservou: a cultura, a culinária, o sotaque e o modo de viver.

O cuiabano é um “bon vivant”: valoriza a cervejinha bem gelaaaaaaaaaaada, joga o truco espanhol como ninguém: “truco, quero retruco, quero seu chapéu, seu bananinha de bolicho, seu mambira, capim de taipa”; ou mesmo o jogo de bozó, ou uma boa pescaria de bagres, pacu e piraputangas, participar de roda de bate-papo pra comer uma cabeça de boi assada, ou um pacu frito como tira-gosto , fazer “moagem” e colocar apelido em todo mundo com a maior naturalidade, e com isso facilitando a fazer amizades, e em poucos minutos de convivência já convida o “estranho” para tomar uma cerveja na sua casa e oferece o que tem na cozinha como forma de hospitalidade.

Em cada nascer de um novo dia, é mais um momento mágico para o Cuiabano reverenciar esse dia e com bom humor que lhe é peculiar, exaltando a continuação da vida.

Logo que amanhece, o cuiabano toma o seu guaraná ralado na grosa no vai-e-vem dos movimentos lentos, e é nesse momento que ele passa a filosofar a vida, e tem como o ponto de partida para começo de um novo dia. Essa bebida por ser estimulante lhe dá um perfeito estado de sintonia com o mundo, revigorando e tirando todo o estado depressivo, que raramente o afeta.

E, por falar no guaraná de ralar, a cultura cuiabana diz que: a pessoa mais idosa é a mais indicada para ralar o guaraná, sabe porque? É que os movimentos lentos que a idade lhe impõe, e com a sua lentidão implementada no vai-e-vem no passar o bastão na grosa, o pó sai sem queimar, garantindo o seu sabor .

E o desjejum é o famoso “quebra-torto”, podendo ser um escaldado de ovo de galinha caipira, ou um revirado de carne cortada na faca e mexido na farinha ou uma paçoca de carne seca socada no pilão.

Fico a ouvir pessoas que recebem um título de “Cidadão Cuiabano”, por estar a muito tempo aqui e ter fincado suas raízes nesta terra, passam a falar: “sou mais cuiabano do que os próprios cuiabanos que nasceram aqui”. Não é, e nunca será. Porque ser cuiabano é um estado de espírito particularizado. Essas pessoas tituladas de cuiabanos, logo no primeiro minuto ao ser castigado por esse calor gostoso que só nós suportamos com naturalidade, e esse sol escaldante que só nós adoramos, para eles o calor e o sol fortíssimos se transformam no muro da lamentação.

E, sem querer, eles passam dizer “isto aqui parece um inferno” e sem pensar descarregam todo tipo de descontentamento sobre esta terra e sua gente. Antigamente esses forasteiros eram chamados de “pau rodados” e com o nascimento de seus filhos passam a ser chamados de “pau fincado”, são cuiabanos por opção, mas nunca vão ser um cuiabano como os de nascimento: nunca vão ter o bom humor, a hospitalidade, espontaneidade para as festividades, e a alegria de viver tranquilamente e que faz parte da natureza dos autênticos cuiabanos.

Os verdadeiros cuiabanos estão preocupados em viver e não fanatizar “ter”. Essa é a grande diferença da filosofia do viver do cuiabano. Não tem o “ter” como o sentido único da vida e para ele o “ser” é o estigma de felicidade. Na verdade cuiabano não está apenas preocupado em acumular riquezas e patrimônios. Para ele o sentido da vida é viver bem, ele trabalha para viver e não vive para trabalhar. E com isso ele prolonga mais sua vida, que é firmada nesta máxima: o sentido da vida é viver.

As pessoas que vieram de outros estados costumam chamar os cuiabanos de preguiçosos: mas essa qualificação não nos cabe, por que antes deles chegarem por aqui, com o trabalho e suor dos cuiabanos tudo isso aqui já estava construído.

Você que não nasceu aqui, se não quiser ferir os ouvidos dos cuiabanos, é só não cometer uma cacofonia ao pronunciar: “no” Mato Grosso. Quem nasce em Cuiabá, nasce em Mato Grosso. Quem nasce “no” Mato Grosso, nasceu “no” pau grosso, (substantivo comum), e quem nasceu em Mato Grosso, nasceu no estado: substantivo próprio.

Quando ouvimos comunicadores de rádio e televisão pronunciar “no” Mato Grosso ou “do” Mato Grosso, ficamos a pensar, esses camaradas metidos “bestas” ficam a criticar o sotaque do Cuiabano, comete essa cacofonia imperdoável e segue a repetir dia após dia em nossos ouvidos, ferindo a nossa cultura e nos classificando com pessoas que vivem “no” Mato Grosso (pau grosso) e não “em” Mato Grosso, nosso querido estadão. Outro erro grave é pronunciar “baixada cuiabana”, aqui não existe mar, portanto o correto é pronunciar vale do Rio Cuiabá, ou seja, as cidades próximas de Cuiabá fazem parte do vale do Rio Cuiabá.

Wilson Carlos Fuá – economista
Nasci aqui, graças a Deus.

[email protected] 

 

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