"Terei vergonha de pagar uma escola particular para meu filho
se não puder lutar por uma educação pública decente"
Meu sonho de infância é poder fazer algo para mudar a cruel realidade que está aí. Sonho em unificar esse estado numa plataforma que tenha como base estrutural das políticas públicas o povo em detrimento dos grandes latifundiários, sem excluí-los, mas aproveitando o potencial de ganho dos que muito tem, para imprimir uma política distributivista, social e educativa para aqueles que pouco ou nada têm, em especial às crianças.
Dados da FAO publicado no último mês aponta que 160 mil pessoas ainda estão abaixo da linha de pobreza em Mato Grosso, em resumo, passam privações, conhecida também como fome, coisa que muitos, como eu, conheceu.
Faço este périplo com algum conhecimento de causa, como quem olha pelo retrovisor do passado e se lembra sem uma família estruturada, tendo que trabalhar como quem trabalhou desde os 9 anos de idade por necessidade. Mas esta também não é uma história daquele garoto que teve uma infância sofrida e negou seu próprio destino para se tornar alguém na vida galgando espaços financeiros, construindo impérios ou se destacando em alguma área reconhecida pela sociedade.
Falo como alguém que não se esquece de onde veio, não vislumbra ser melhor que ninguém, nem servir como mais um ‘case" de sucesso para revistas empresariais. Falo como alguém que tem o costume da luta, a batalha como princípio, a busca incessante do bem comum como método de vida e, por isso a possibilidade de, agora, fazer algo por aqueles que não tiveram oportunidades além da ‘esmola" anual ou mensal de políticas popularescas de primeiras-damas ou gestores que ao invés de dar um futuro para as crianças, dão apenas brinquedinhos posando para fotos. Falo como quem tem o diagnóstico marcado nas cicatrizes do tempo e da própria história e se propõe a apresentar um prognóstico, como pretenso candidato ao governo do estado, nas próximas eleições. Falo para estas crianças, mas também para seus pais.
Terei vergonha de pagar uma escola particular para meu filho se não puder lutar e trabalhar para dar uma educação decente para os filhos de cada cidadão deste estado.
E esse estado do qual estou falando é rico, mas seu povo é pobre. 90% do bem social mais importante que é a terra está nas mãos de 6 mil famílias. O índice de desenvolvimento que mede a qualidade de vida dos cidadãos é o pior de todo o centro-oeste. Nossa educação enfrentou a mais longa greve de todos os tempos. Nossos talentos esportivos não dispõem de incentivos e muitos se perdem no caminho obscuro das drogas; Não existem praças para lazer, muito menos cursos gratuitos de qualificação que ensine mais do que dirigir uma colheitadeira. Nossa cultura está em frangalhos, o potencial turístico pouco explorado, a violência batendo em nossa porta. Milhares de crianças ainda morrem no estado embrionário nestes rincões por falta de uma unidade de atendimento especializado ou um simples pré-natal.
Falar de todas as potencialidades que temos por explorar é ocupar espaço desta revista inteira sem esgotar um décimo do que temos em termos de capital humano e ideias. Citar exemplos de como o estado está explorando isso é pular num abismo vazio. Creio por isso, por minha vivência neste mundo de incertezas que, podemos juntos ser capazes de ofertar políticas públicas inadiáveis que contemplem as crianças, desde o estado primário até a idade adulta, quando poderá chegar, um dia, com diploma e qualificação na mão, abraçar seu pai num dia como o último 12 de outubro, olhar para o retrovisor e agradecer pelo direito conquistado em nosso eventual futuro governo, que será o governo das oportunidades.
Nosso estado é rico, próspero, mas tem uma dívida para com suas crianças que, se não sanadas, acabará perpetuando esse estado de coisas, inclusive, de pais que não puderam dar um presente melhor ou sequer acordar o filho para ir a escola e desfrutar de uma boa merenda na segunda feira, porque os professores estavam em greve. Sem contar que, falar nas crianças, também é falar em condições e salários dignos para seus segundos pais, que são os professores.
Quem não tem esporte, lazer, brincadeira, teatro, doces e brinquedos não tem infância. Quem não tem um bom professor não tem futuro. Devemos enfrentar essa batalha com todas as forças possíveis, além do imaginário de uma criança sonhadora que cresceu com a mesma esperança que ainda carrega hoje, de construir um mundo melhor para todos.
José Marcondes – Muvuca – é jornalista e pré-candidato ao governo do estado de MT em 2014.