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O caos urbano 2011

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O processo de urbanização ocorrido no Brasil, principalmente, a partir de meados da década de 1960, tem tirado o sono de gestores públicos, principalmente municipais e milhões de famílias que sofrem na pele as conseqüências de um crescimento urbano desordenado e a falta de capacidade dos gestores em darem respostas à altura dos desafios.

Em 1960 o Brasil ainda era um país tipicamente rural. Viviam no meio urbano apenas 44,7% da população, sendo que dez anos após (em 1970) a população urbana já superava a rural em quase 50 milhões de habitantes, ou seja, 55,9% da população total. Essa mudança de perfil foi sendo acelerada de forma rápida nas décadas seguintes até que em 2010 a população urbana passou a representar 84% da população total. Isto significa que vivem no meio rural 30,3 milhões de pessoas e no meio urbano 160,4 milhões de habitantes.
Alguns estados apresentam índices de urbanização bem superior a media nacional como RJ (96,7%), DF (96,6%); SP (95,9%) e Goiás (90,3%). Todos os demais estados das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste apresentam índices de urbanização superiores a 80%, além de Pernambuco e Amapá que também ostentam índices de urbanização superiores a 80%.
Outro aspecto que merece a atenção tanto de gestores públicos, de estudiosos e também da classe política é que a cada década as regiões metropolitanas e os conglomerados urbanos passam a concentrar um percentual mais elevado de habitantes e, em conseqüência, aumentam também a gravidade dos problemas e desafios. As 20 Regiões Metropolitanas, por exemplo, em 2010 concentravam 73,5 milhões de habitantes ou 38% da população total do país, que, somadas com as conurbações atingem aproximadamente 45% da população total vivendo em um espaço muito reduzido do território nacional.

Fruto desse crescimento acelerado, desordenado e também em decorrência da falta de planejamento urbano, da precariedade dos investimentos ou até mesmo do descaso dos governantes em todos os três níveis de poder (União, Estados e Municípios), esse enorme contingente da população brasileira vive em meio a um caos crescente.
Esse caos pode ser identificado nos setores da segurança publica onde a cada ano ocorrem mais de dois milhões de casos como roubos, assaltos, seqüestros, estupros e assassinatos. Entre 1998 e 2010 ocorreram 628.312 assassinatos no Brasil. Outro setor que também e um verdadeiro caos é o transito e transporte urbano. A deficiência deste setor é gritante e pode ser constatado pelos enormes e freqüentes engarrafamentos e lentidão que pioram nos períodos de chuvas quando as tragédias se multiplicam. No mesmo período considerado ( 1998 a 2010) os acidentes de trânsito foram responsáveis por 466.904 mortes, além de bilhões de prejuízos aos setores econômicos e da saúde pública, além de muita dor e sofrimento para as vítimas dessa barbárie.

A saúde pública dispensa comentários, pois é um setor que vive no maior caos há décadas e que, apesar dos discursos de nossos governantes, principalmente em períodos eleitorais, somente o povo, as pessoas que aguardam nas filas nas portas de hospitais, prontos-socorros, postos de saúde e acabam tendo um atendimento que fere a todos os princípios de decência e dignidade. Além disso, ainda existem as filas invisíveis, aquelas em que as pessoas pobres, que não tem a quem recorrer e nem recursos para pagarem planos de saúde, esperam meses ou até anos para serem atendidas, quando e se ainda estiverem vivas. Muitas morrem antes de receberem qualquer atendimento, dependendo da gravidade da doença.

O setor habitacional, apesar de tantos planos e modelos utilizados, também continua impondo sofrimento. Estima-se que mais de 15 milhões de famílias, ou seja, em torno de 60 milhões de pessoas vivem em condições subumanas, em favelas, cortiços, alagados, encostas de morros sem as mínimas condições de higiene e em meio a muita promiscuidade.

Finalmente, apenas para inserir mais uma dimensão deste caos urbano. A questão do lixo/resíduos sólidos. Conforme dados recentes divulgados nesta semana no Fórum Brasileiro de Resíduos Sólidos realizado em São Paulo , as condições deste setor a cada ano estão piorando. Mais da metade dos municípios brasileiros não tem uma política e nem planos adequados para o setor. Em torno de 45% de mais de 60 milhões de toneladas de lixo geradas anualmente não tem destinação adequada, ficam pelas ruas, formam lixões clandestinos ou acabam indo para os lixões "administrados" pelas prefeituras diretamente ou através de concessionárias. Esta é mais uma questão vergonhosa que afeta a saúde e a qualidade de vida do povo e demonstra a incompetência dos governantes e gestores públicos em relação aos direitos fundamentais do ser humano: uma vida digna e decente.

No próximo ano deverá haver eleições municipais. Os candidatos e as promessas deverão ser iguais ao que vem ocorrendo em nosso país nas últimas quatro décadas. O povo brasileiro merece algo melhor!

Juacy da Silva, professor universitário, titular e aposentado UFMT, Ex-Diretor da ADUFMAT, Ex-Ouvidor Geral de Cuiaba, mestre em sociologia, colaborador de Só Notícias

 

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