O meio político de Mato Grosso foi pródigo, na semana que passou, em assuntos, por assim dizer, putrefatos. A começar pela chatice da interminável disputa por uma vaga no glorioso Tribunal de Contas do Estado – a tal “Corte” que surgiu graças à existência de um sistema que cria esdrúxulas situações, como a de delegar a apaniguados a tarefa de fiscalizar contas de seus padrinhos políticos.
Depois, o leitor acompanhou – certamente a contragosto – as ladainhas de deputados que não fazem outra coisa senão montar palanques eleitoreiros, na tentativa desesperada de chamar a atenção para pretensas candidaturas a prefeito em 2008. Pior, nem coram ante o ato extremamente irresponsável de usar o Plenário da Assembléia Legislativa para legislar em causa própria.
Mas, a notícia que não cheirou bem mesmo foi aquela que apareceu na mídia em forma de ameaça (aos bons princípios, à moralidade, enfim…): a volta do ex-deputado federal Lino Rossi (PP) à televisão em Cuiabá. A ameaça – quer dizer, a notícia – foi anunciada pelo próprio, no fim de semana passado, num programa de entrevistas da emissora (TV Rondon/Rede TV!), cujos proprietários – vamos reconhecer – tiveram a coragem de contratá-lo.
Na tentativa de fazer um retorno triunfal, o ex-deputado buscou se redimir dos pecados, insinuando “erros” ao praticar o assistencialismo etc. e tal. E, imagine, assumiu o compromisso de se mostrar, doravante, um “novo Lino Rossi”, com a cobrança sistemática de soluções para os problemas do sofrido povo às autoridades.
Curiosamente, a volta de Rossi foi saudada por alguns jornalistas e políticos, que se derramaram em elogios. Enquanto um afirmava que LR é um sujeito de muita personalidade e tem tudo para fazer sucesso de novo (?), outro insinuava que, na verdade, muita gente “tem medo” dele. De fato, o temor é da sociedade, que já conhece o ex-deputado, dos tempos em que ele era apresentador do programa policial “Cadeia Nele”, na TV Record, e usou a emissora para se revelar à opinião pública como um cidadão acima de qualquer suspeita, mas, ao ser conduzido à Câmara Federal, mostrou que não tinha compromisso com o interesse público. Visava apenas e tão-somente as suas próprias conveniências, os seus caprichos pessoais. Isso ficou provado!
O que os nobres políticos e jornalistas deveriam ter feito, em vez de desfiar um rosário de bajulação, era revelar a biografia política (ou folha corrida?) do ex-deputado. Todos se lembram que Rossi ganhou a condição de “elemento-chave” das atividades da Planam, a famosa empresa mato-grossense que originou a Máfia das Sanguessugas, que, por seu turno, ganhou licitações fraudadas, nadou de braçada em emendas parlamentares ao Orçamento da União e vendeu ambulâncias superfaturadas. No final das contas, o ex-parlamentar terminou acusado de lavagem de dinheiro, de corrupção, formação de quadrilha… O Ministério Público o acusa de ter embolsado uma dinheirama: R$ 3 milhões, de um montante de R$ 100 milhões que os seus colegas mafiosos surrupiaram dos cofres públicos, em cinco anos. Responde a processo e pode voltar para a cadeia.
O ex-deputado Lino Rossi, convenhamos, é corajoso (ou é daqueles que acham que o povo mato-grossense é idiota), na medida em que se dispõe a enfrentar o telespectador, mesmo sabendo que não tem moral nenhuma para cobrar nada de ninguém. Com que cara ele vai criticar, por exemplo, o político que desvia dinheiro público? Com que autoridade ele vai acusar o político que ludibria o eleitor na sua boa-fé e utiliza o mandato popular buscando o enriquecimento fácil?
Sem dúvida, em Mato Grosso acontece cada coisa que no Paraguai dá até prisão perpétua. Como as notícias da semana, esse programa de Lino Rossi já cheira mal…
Antonio de Souza é jornalista em Cuiabá.
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