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Mordaça velada

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Sou leitora assídua de Opiniões/Artigos do Só Notícias. Há poucos dias atrás, li um texto que, particularmente, me chamou atenção pela intervenção precisa ao fato do respeito que Sinop merece enquanto expressão coletiva de pensamento. Retirei um trecho para ilustrar este meu excurso pelo tema da coerção que é feita aos que se atrevem usar do direito de liberdade de expressão, garantida pela Constituição Federal. Assim dizia o texto: “Sinop merece respeito, mesmo! Os amigos do prefeito não podem impedir o povo de se manifestar. O que fariam eles se um adversário estivesse em situação semelhante? Alguns amigos já deram uma pequena mostra de como devem ser tratados possíveis oponentes. Houve tentativa de intimidação a um professor, o que gerou um boletim policial de ocorrência” (Leonildo Severo, 02/06/07). Tal situação deixou-me indignada, uma vez que, em curso o Século XXI, as mordaças do poder deveriam ter sido abolidas.

Mas não foi o que presenciei, mais uma vez, ao retornar a Sinop esta semana. O fato é o seguinte: tenho uma filha de quinze anos que possui uma leitura bastante crítica do que ocorre no seu entorno. Isso se deve, em parte, à educação que tem em casa, que a conduziu a não concordar com tudo e com todos, e de modo especial, a expressar livremente o que pensa. Não é Maria-vai-com-as-outras. Sabe-se, como já dito no início, que a Constituição Federal garante ao cidadão brasileiro o direito à livre exposição de suas idéias. Assim sendo, sua manifestação deu-se em forma de uma comunidade, em um site de relacionamento de livre acesso, no qual é comum as pessoas dizerem e lerem conforme sua vontade. Tal espaço fazia alusão ao Digníssimo Senhor Prefeito, sem ter nenhum depoimento que pudesse comprometer sua “idoneidade”. Tal manifestação gerou uma coação por parte de integrantes do governo municipal, a ponto de exigir desculpas da adolescente e a retirada de tal comunidade por ferir a “integridade” do célebre homem. A intimidação atingiu a pessoas que não tinham nenhuma responsabilidade com a proposição.

Acredito firmemente que as pessoas que estão a serviço de um poder opressor, como as que agiram com tanta idolatria, são merecedoras, no mínimo, de minha repulsa. São portadoras de uma ignorância política que causam pena. Por que não coagiram a mim, mãe da adolescente, que poderia dar-lhes a merecida resposta com o devido know-how que a questão requer? Se fossem pessoas alheias ao assunto, poder-se-ia dizer que não conhecem o que é DEMOCRACIA. Não. São pessoas que lidam com educação (!). O que mais me causa aversão é a forma com que conduzem tais atitudes em defesa de não se sabe o que. A quem defendem? À pessoa? À instituição? Ao patrão? Ao emprego? Ao status? Comprometem cotidianamente a democracia, tornando este lugar uma Província de coronéis, que ainda utiliza as mordaças para impedir que pessoas exerçam seu direito de julgamento. Seria necessário alongar este assunto.

Por hora, quero concluir com as palavras do escritor português Almada Negreiros que escreveu, em seu Manifesto Futurista (1917), o que hoje diríamos: “Abandonai os políticos de todas as opiniões: o patriotismo condicional degenera e suja. […] Gritai nas razões das vossas existências que tendes direito a uma pátria civilizada”. Ao povo que lotou a arena, aplausos. Será amordaçado também?

Luzia Oliva dos Santos é professora Ms. na Unemat – Sinop

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