sábado, 15/junho/2024
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Justiça é bom e eu gosto muito

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Uma coisa é a necessidade que temos de editais de cinema, teatro, artes plásticas, música, etc, com regras claras e bem definidas, onde os concorrentes não possam sob qualquer hipótese ser identificados, a não ser a posteriori, quando os projetos forem aprovados por competência e merecimento, para democratizar nosso Fundo de Cultura, em detrimento da politicagem que abocanha muito mais do que os 30 % que órgão públicos teriam direito, segundo a legislação, já que o Fundo pretende premiar o produtor independente, que tem sempre menos poder de fogo do que poderes instituídos, como prefeituras e universidades, federais ou pagas, que se assenhoram de seus “pequenos poderes” e passam a competir, numa briga desigual pelos recursos do Fundo.

Uma coisa é nossa necessidade de uma política cultural estadual, que premie o talento e que tenha previsão orçamentária determinada a cada ano, como se faz para a educação, por exemplo, que faça parte da LDO ao invés de ficarmos a mercê dos governos que se revezam e que muito pouco ou nada entendem dos meandros dessa área, como se esta não fosse uma área que promovesse tanto o ser humano, a cidadania e a auto-estima quanto qualquer bom e digno emprego pode fazer por qualquer cidadão.

Uma coisa é sonhar com um estado onde o que os regulamentos pregam seja verdadeiro, onde os cidadãos de bem e boa vontade podem acreditar, que os projetos serão escolhidos por sua qualidade artística, sua profundidade de pesquisa, seu talento de expressão e não pelo padrinho mais poderoso, pelo nome capaz de arrebanhar mais tostões.

Uma coisa é querer uma classe artística unida e atuante, (nesse mar de artistas que repentinamente “surgiram” na cultura mato-grossense), que esteja sempre formulando propostas e incrementos idéias para a desejada política cultural, onde não haja “negociação” de idéias ou ideais (o que é ainda muito pior). Uma classe artística que esteja disposta a brigar por suas causas, com todos aqueles que posteriormente às conquistas vão apenas brigar por recursos.

Uma coisa é desejar mudanças e lutar por elas, mas não podemos nunca esquecer, que tudo já foi muito pior. Não podemos jamais esquecer da humilhação a qual éramos obrigados a passar, sentados no chão das salas, a espera de sermos recebidos, para entender melhor as regras de um jogo que era para poucos;
Não podemos esquecer da enorme quantidade de projetos captados, cujos proponentes, reincidentes na não prestação de contas, mantinham seus nomes límpidos para próximas captações, debochando da ingenuidade dos cumpridores da lei, que insistem em realizar adequadamente seus projetos e manter sua prestação de contas em dia. Não podemos esquecer das conquistas alcançadas, que nos remeteu novamente ao universo de criadores e artistas, ao invés de termos que dividir nosso tempo entre captadores de recursos e negociantes de certificados.

Justiça seja feita, e nós artistas precisamos ser os primeiros a clamar por ela. Nós, que devemos ter a vanguarda do conhecimento, nós que temos a responsabilidade de formar opiniões, nós, os responsáveis por colocar os pingos nos is. Se nós próprios não tivermos a consciência da qualidade da gestão de um artista na Secretaria de Cultura, que entende as demandas do setor, que compreende a necessidade por privilegiar o bom e indiscriminado conhecimento, que é sensível à causa de um fazer cultural integrado e homogêneo, aceitando e respeitando as diferenças, entre município, estado e federação, são o melhor para nossa classe, ainda que pressionado entre “solicitações” de todas as ordens, que tipo de artistas somos nós?? Qual é afinal a inquietação que nos aflige? E quem é de verdade o inimigo?

Estaremos nós mesmos prontos para clamar por mudanças, se não reconhecemos entre nossos pares àqueles que podem de fato ajudar a fazer de nosso Estado um exemplo de gestão em cultura? Por que não pensamos em outras formas de incentivo como por exemplo as leis de cultura municipais, para que os municípios, apóiem seus próprios artistas, mostrando a real vocação cultural de seus municípios que buscam recursos estaduais para suas demandas, sem qualquer contra-partida, ou seja, sendo eles os próprios a mamarem nas divinas tetas dos recursos do Fundo Estadual de Cultura.
Por que não pensamos em criar mecanismos de mudança à Lei Rouanet, tornando-a menos hipócrita, sugerindo uma cascata de desembolso, propiciando assim, que nossos próprios empresários apóiem nossos projetos. Eles, que conhecem mais seus artistas do que os donos das multinacionais da vida, que têm suas sedes tão longe de nós e que obviamente tenderão a ceder seus recursos para apoiar nomes nacionais mais conhecidos?

Cá com meus botões, fico pensando, se ao invés de críticas, não nos atemos antes a criar propostas para empreender as mudanças qualitativas dentro daquilo que já foi conquistado. Se ao invés de crítica não ajudamos a cuidar de assegurar nossas conquistas, clamando pelo nosso direito de “1% do orçamento para a cultura”, como rege a lei de qualquer país desenvolvido.
Por que não nos batemos pelos editais, que de fato democratizarão os recursos e premiarão sem pressões àqueles que não entendem a cultura apenas como apêndice de suas atividades regulares?
É, são muitas as questões a serem postas, mas apenas uma afirmativa se constata. Os piores cegos, são aqueles que insistem em permanecer de olhos fechados.

Tati Mendes
Produtora de Cinema e Teatro
(Sem nenhum projeto aprovado no Fundo de Cultura de MT 2007)c

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