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Jonas Pinheiro, um homem bom

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Passei a conviver politicamente com Jonas Pinheiro em 1986. Fomos constituintes juntos pelo Estado de Mato Grosso. Ao longo da nossa militância política sempre estivemos em lados opostos, defendendo posições diferenciadas, mas sempre nos respeitamos.

Lembro-me ainda hoje de dois acontecimentos que não me abandonam a memória desde 1987, quando ocorreu o debate sobre a reforma agrária na constituinte. Recebi em meu gabinete, um empresário várzea-grandense, por nome Danilo, que alegando ter votado e defendido a minha candidatura rogava para que, como constituinte votasse no projeto de reforma agrária do deputado Rosa Prata de Minas Gerais. O projeto era um primor de conservadorismo. Só permitiria a reforma agrária no dia de São Nunca. Disse-lhe claramente que votaria com a proposta que havia defendido nas praças públicas e ele reclamou: “mas eu votei e trabalhei pela sua candidatura”. Disse-lhe votou e trabalhou errado, pois nunca defendi essa idéia. Horas depois o projeto foi à votação.

O resultado foi um “buraco negro”, nem o nosso projeto foi aprovado, nem o do deputado Rosa Prata. Na saída do plenário fui abraçado por um agricultor humilde de Mato Grosso que me pedia desculpas, por não ter votado em mim e sim no Jonas Pinheiro, que votara com o projeto Rosa Prata. Disse-me que havia votado por ser “cumpadre” de Jonas. Expliquei-lhe sobre o significado do voto e que ele deveria representar a adesão às idéias e não as pessoas. Contei-lhe sobre o episódio do Danilo dizendo que apesar de ser meu amigo deveria ter votado em Jonas e que ele, apesar de ser “cumpadre de Jonas” deveria ter votado em mim. Assim, ambos estariam melhor representados. Coisas da política.

Em 1990, Jonas Pinheiro era candidato mais que natural ao governo do Estado, pela sua enorme capacidade de agregar e fazer amigos. Abriu mão para Jayme Campos que chegou ao Palácio Paiaguás. Jonas foi reeleito deputado federal.

Em 1994, Jonas Pinheiro se elege senador da República. Em 1998, passo a fazer-lhe companhia no Senado. Sentado ao seu lado aprendi a conhecer o hábil político de origem pessedista, bem como seu extremado amor por Mato Grosso e pelo Brasil. Jonas Pinheiro era o senador do setor produtivo. Representou como ninguém representará o homem do campo. Verdadeiro pai para os produtores rurais brasileiros e responsável, em grande parte, pela vitoriosa articulação da bancada ruralista. Jonas Pinheiro não se dedicava a proteger alguns. Lutou indistintamente pela área rural. Adotou como filhos todos os produtores, grandes e pequenos. Enganam-se os que pensam que só Mato Grosso sentirá a falta de Jonas. Não. O Brasil inteiro vai lamentar a ausência do grande líder ruralista das discussões no Congresso Nacional.

Aprendi com Jonas a gostar da pecuária. Incentivou-me a criar gado e depois a criar nelore PO, talvez a sua maior paixão. Só não é a maior por causa da Celcita e dos filhos. Senti o Jonas Pinheiro amargurado, quando caluniaram Celcita no episódio das “sanguessugas” em pleno processo eleitoral. Agradeceu-me pelas declarações públicas que dei, em plena campanha eleitoral, na condição de adversário, dizendo não acreditar naquelas denúncias. Nada disse sobre o silêncio de alguns dos seus companheiros, mas deu para perceber que sofreu muito com a derrota da sua esposa nas urnas. Nunca culpou ninguém. O máximo que fazia era reclamar das excessivas condições de alguns para disputar e das dificuldades financeiras da campanha da deputada Celcita. Resignadamente conformou-se, inclusive com a pífia votação da sua esposa em Várzea Grande.

Jonas Pinheiro tinha problemas de circulação sanguínea na perna direita. Resultado do nível de açúcar no sangue, pois era diabético. Conversei muito com ele sobre isso, pois perdi meu pai muito cedo, por causa dessa doença. Não era dos mais cuidadosos em sua dieta. Sua agenda de final de semana nunca lhe permitia os rigores da dieta. Jonas trabalhava todas as semanas, durante todo o mandato, como se estivesse em campanha. Era presença constante no interior, sem se descuidar das suas obrigações no Senado. Não dedicava muito tempo para ele mesmo. Para os outros sempre foi muito atencioso. Com paciência, cuidava de cada situação que lhe transmitiam, quer junto ao Banco do Brasil, quer no Ministério da Agricultura, áreas que dominava como ninguém.

Jonas Pinheiro sempre foi carinhoso e brincalhão com os meus filhos. Na última vez que esteve com Patrícia, minha filha foi galanteador: “você está linda, parece com sua mãe”. Eu também acho minha filha linda, só que ela é minha cara. Mais uma divergência entre eu e Jonas.

Na última conversa que tivemos sobre a política, mostrava-se otimista em relação às possibilidades nas eleições de 2010: “eu já havia pensado em parar, mas os produtores estão insistindo por mais uma candidatura, acho que vou ganhar de novo”. Jonas Pinheiro foi assim, coerente, leal e sempre vitorioso. Respeitadíssimo por seus adversários. Valia a pena fazer política com ele e contra ele. Era desses raros políticos para quem se pode virar as costas.

Morreu Jonas Pinheiro. Os produtores perderam seu protetor. Uma lacuna que demorará muito a ser preenchida. Hoje, com certeza estará no céu, dando ordens para Ditinho, seu assessor que o acompanhou em muitas viagens em Mato Grosso e que era um exímio cantor. Os anjos ficarão assustadíssimos, mas não demorará muito para ele organizar do lado de lá, “O Seu … Que Brilha”. Enfim, o céu vai conhecer o carnaval de Santo Antonio.

Morreu Jonas Pinheiro. Um homem bom.

Antero Paes de Barros é jornalista e ex-senador por Mato Grosso
*Transcrito de seu blog

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