Costuma- se dizer que quando as pessoas dão mais ênfase ao supérfluo em detrimento das coisas mais importantes na vida está ocorrendo uma inversão de valores. Imagina alguém investir seus parcos recursos em roupas suntuosas ou outros produtos supérfluous e deixar faltar recursos para os cuidados com a saúde, a alimentação ou a educação da família. Quando isto ocorre tal pessoa será objeto de crítica por parte de familiares ou amigos/as.
O Ministro da Aeronáutica Délio Jardim costumava dizer que um major aviador que pilotava um mirage da FAB, com curso superior, anos de experiência e treinamentos até no exterior, ganhavam menos do que um acensorista do Congresso Nacional que pilotava um elevador para transportar parlamentares de um andar para outro. Lembrando que no Congresso existem elevadores privativos para Deputados e Senadores, afinal os representantes do povo não podem se misturar com a ralé, o “zé povinho”, quando esses eleitores visitam o Congresso, da mesma forma que visitam as Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais, para pedir algum favor, protestar ou até mesmo para ouvir inflamados discursos de parlamentares perante um plenário vazio.
Mesmo que tenha ocorrido um aumento real no salário dos militares e de outras categorias de servidores do Poder Executivo, com certeza esta defasagem salarial ainda persiste, principalmente em relação aos salários dos servidores dos poderes legislativos, judiciário e estatais.
Dizem as mas línguas que algumas funções consideradas subalternas, para as quais as exigências de instrução são mínimas, geralmente no máximo nível médio, nos Poderes Legislativo e Judiciário, tem salário inicial várias vezes o que ganham servidores do poder executivo, dando a impressão que as fontes dos recursos sejam distintas (quando sabemos que a origem de tudo é a carga tributária que recai sobre o lombo do povo) e o trabalho dessas pessoas seja mais importante do que o realizado por profissionais da saúde, da educação,da segurança pública, da agricultura, da defesa nacional e de várias outras áreas do serviço público.
Há poucos dias o noticiário nacional destacou que estão ou estarão abertas as inscrições para vagas de segurança na Câmara Federal, com salário inicial de doze mil reais e que após alguns anos somadas as gratificações de função, os locais de trabalho e outras benesses a pessoa poderá aposentar-se com um salário de até 17 mil ou se tiver função mais graduada e conseguir incorporar todas as futuras vantagens, muitas das quais oriundas dos famosos trens da alegria muito comuns no Cogresso e tantos outros orgãos públicos, poderá atingir valor maior do que este.
As exigências são instrução de nível médio, passar em provas escritas e de aptidão física. Nem precisa dizer que este concurso será mais competitivo do que a disputa por uma vaga em medicina, curso mais dispuado no ultimo ENEM.
Enquanto isso professores/as das escolas públicas municipais e estaduais com cursos superiores, ganham no máximo três salários mínimos, ou seja, 20% do que vão ganhar os seguranças de nossos parlamentares federais.
Após 35 anos de trabalho, com cursos de mestrado ou doutorado professores universitários se aposentam com menos da metade do salário dos seguranças do Congresso Nacional. Esta é a cara do Brasil em pleno século 21, existem inúmeros outros exemplos que demonstram que a inversão de valores continua sendo a tônica das ações governamentais!
Juacy da Silva, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia.
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