Terminou semana passada a Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas. A conclusão a que se chega é de um enorme fiasco sobre a formação de um consenso mundial sobre o controle das emissões de gases, bem como, de uma ajuda financeira mundial aos países mais pobres.
Boa parte desse entrave pode ser creditada a politização da questão ambiental no planeta. Estou convicto que esse obstáculo se deve ao fato daquilo que chamo de "banalização da questão ambiental". Nesse caso, o meio ambiente, visto estritamente, pela ótica preservacionista, se apresenta como uma grande utopia, para não dizer, de pouca eficácia prática.
A meu ver, o problema ambiental, se desloca para fora do campo ecológico. Estou convicto de que a lógica da resolução dos problemas ambientais deve, inicialmente, perpassar por uma total reinvenção do modelo atual de sociedade em que vivemos. Uma sociedade da qual o consumo é o grande objeto da virtude e desejo individual.
Nessa sociedade capitalista, calcada no consumo exacerbado de bens e produtos, romper de súbito com essa lógica, representaria, na minha análise, uma possibilidade de ampliação da pobreza, da miséria, e principalmente, dos conflitos transnacionais. Digo isso porque estamos enraizados dentro desse modelo capitalista de convivência socioeconômica.
O que temos hoje é uma grande onda de discursos que se apropriam da preservação ecológica como única possibilidade real e emergencial de salvar o planeta. Quero aqui reafirmar que os problemas ambientais e climáticos são fatos inquestionáveis. E é preciso sim que governos e Estados intervenham no ritmo dessa lógica. Porém, não se pode apenas reafirmar o discurso da preservação como único caminho ao bem estar social, ecológico e econômico.
Precisamos sim é ampliar as bases de uma mudança radical da mentalidade humana da qual estamos emersos. Por isso, é preciso repensar novas estratégias de ataque aos problemas climático/ecológico. E isso significa investir numa educação de qualidade, em saúde, segurança, emprego e planejamento familiar. Um economista clássico do final de XIX, Malthus, já alertava sobre os desdobramentos da densidade demográfica como pressão a disponibilidade de alimentos no planeta.
Seguindo essa idéia, os fenômenos econômicos e sociais que perpassaram o século XX se reproduziram sob a lógica da abundância da natureza e de matérias primas. Já o século XXI, esse padrão socioeconômico se mantém sob uma nova lógica calcada no paradigma da escassez.
Portanto, os problemas ambientais atuais devem ser percebidos para além da ideologização da preservação. Enquanto houver uma pressão social sob o consumo e produção de alimentos, mais e mais a natureza será chamada a dar conta dessa demanda. E é óbvio que, muito em breve, todos nós sofreremos tais conseqüências apocalípticas.
Por fim, creio que o fracasso da COP 15 se deve muito as intransigências política de setores ligados aos interesses de ecologistas e do mercado. E que, o problema climático e ecológico, não pode ser visto tão somente pela ótica da preservação da natureza. É preciso sim uma mudança radical de mentalidade onde se rompa efetivamente com a irracionalidade atual do consumo.
Oseias Carmo Neves é sociólogo e professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em Juara.