Pegue tudo o que você já ouviu e até pensou sobre a derrota daquele timeco que nos representou na Copa do Mundo e ponha em um saco. Isso mesmo, tudo aquilo como faltou garra e patriotismo aos nossos jogadores; faltou habilidade e coragem de nosso técnico; sobrou soberba de todo o escrete; sobrou auto-confiança; e sobretudo faltou futebol.
Muito bem. Agora pegue tudo o que você já ouviu e viu desse início de campanha eleitoral em Mato Grosso, e ponha em outro saco. É disso mesmo que estou falando: da mesma autoconfiança, da mesma falta de humildade, do mesmo favoritismo, do mesmo timaço formado por um dos contendores.
No Brasil, futebol acaba virando metáfora de quase tudo, principalmente de política. As comparações são inevitáveis. Muito embora um e outro tenham lógicas absurdamente diferentes. Mas, pelo futebol, onde cada um de nós é especialista, podemos compreender melhor a política.
E essa analogia nos força a ser um pouco céticos em relação ao favoritismo do palanque governista. Aparentemente, é o time mais forte, com os jogadores mais competitivos, quase imbatíveis. Mas, se no futebol falta-se sempre combinar com o time adversário para as previsões darem certo, em política, precisa-se saber como o eleitor reage a isso tudo, porque o gol e o placar pertencem a ele.
A ampla coligação em torno de Blairo de fato é uma força invejável. Praticamente todos os partidos estão ao seu lado, e os que não estão precisarão contar apenas com o talento individual de seus candidatos. Mas, se faltou garra e sobrou soberba para a seleção Canarinha, parece sobrar autoconfiança e faltar coerência à coalizão governista (perdão pelo emprego desse termo. Coalizão, epistemologicamente, deveria ser empregado apenas nas alianças que se formam em torno da governabilidade. Em eleição, o termo adequado é coligação mesmo).
O palanque amplo demais pode representar um fator subjetivo de importância exponencial, mas como fator negativo. Pelo menos duas vaias surgidas das torcidas, sendo uma de Zé do Pátio e outro de Zeca D’Ávila, dos dois maiores partidos da coligação, servem de indício de que muitos problemas ainda surgirão, e o que parecia ser a contratação do século, poderá vir a ser os Ronaldos do Parreira: muita firula e nada de bola, quando não um gol contra.
A crise é exponencial porque pode se multiplicar durante a partida, digo, da campanha. A seleção formada pela turma da botina tem muitas estrelas, mas é como se cada um fosse de um país diferente, com línguas diferentes, estilos diferentes, e todos, ou a maioria, muito diferentes do técnico, do comandante, que pode não conseguir comandar, porque, num time desses, cada um joga por e para si, prevalece a individualidade.
Esse texto tá ficando uma incongruência só, reconheço. Mas, como tá todo mundo falando de futebol e de política, tentei ficar dentro da pauta. Mas, no fundo, tudo que o que queria lembrar é do que venho dizendo há muitas luas aqui neste espaço: Blairo é favorito, mas não é imbatível. E agora o jogo começou, e como todos nós sabemos, treino é treino e jogo é jogo.
Kleber Lima é Jornalista, Consultor Político filiado à ABCOP (Associação Brasileira de Consultores Políticos), e Consultor de Comunicação da KGM