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Eu não gosto de prato feito

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Sou pecuarista desde que nasci. Tenho outras atividades, mas criar gado está no sangue, na tradição da família. Apesar do prazer em trabalhar no campo o que encontramos nos últimos tempos é o desrespeito para com os pecuaristas. Alguns homens da cidade estão usando o boi para tirar proveito. Estou falando mais diretamente com os banqueiros. A crise que começou em 2008 quebrou a grande maioria dos frigoríficos que entraram com a famigerada Lei de Recuperação Judicial depois de créditos irresponsáveis liberados pelos bancos às empresas sem suporte para cumprir as obrigações assumidas e com taxas de juros exorbitantes e surreais.

Aqui em Mato Grosso o resultado foi o fechamento de mais de 40% das plantas frigoríficas e uma dívida com os pecuaristas que ultrapassa os R$ 200 milhões. Entre esses frigoríficos está o Frialto, localizado em Sinop, do grupo dos irmãos Bellincanta, que no próximo dia 16 de dezembro vai realizar sua quarta assembleia geral de credores. Um frigorífico que fui fiel fornecedor desde sua abertura em 1996.

Mas, eu não vou a Sinop. Por quê? Por que como credor e presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso, a Acrimat, não acredito mais nas ´boas intenções" do Frialto, pois quem fala e decide pelos Bellincanta, são os bancos e não os pecuaristas e os trabalhadores, que são meros expectadores nas assembléias gerais convocadas. E será assim nos próximos 20 anos, caso o Frialto consiga se manter no mercado. Eles querem usar o boi futuro para consertarem o mal feito do passado e do presente.

Se depender de mim, Mario Candia de Figueiredo, isso só vai acontecer se mudar a proposta indecente de pagamento à vista de 15 mil e, acima desse teto, em 10 anos para pagar os R$ 95 milhões que estão devendo aos pecuaristas que trabalharam três anos para produzirem o boi gordo entregue nos frigoríficos. A partir de janeiro de 2011 vamos fazer uma campanha incessante junto aos pecuaristas da região Norte de Mato Grosso para não venderem mais boi, nem à vista, para o Frialto. Eu não vendo mais.

Não gosto de prato feito, o famoso PF. Gosto de fazer meu próprio prato e servir o que tenho vontade e não aceito goela abaixo o que os bancos, que detém 92% da divida de mais de meio milhão, decidem servir. A cada assembleia geral as propostas feitas aos pecuaristas e trabalhadores pioram consideravelmente, uma proporção inversa para com os bancos. Imaginem como será a quarta AGC! Não eu não aceito comer prato feito. Eu não vou a Sinop e podem acreditar, meu boi o Frialto não vai ver mais. Só no prato.

Mario Candia de Figueiredo é presidente da Acrimat

 

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