Segundo a economista Maria Conceição Tavares, "a todo ciclo de oba-oba corresponde um surto de epa-epa."
Pelos dados observados tudo indica que a economia brasileira está navegando no surto do epa-epa, e não parece ter perspectiva de sair desse surto tão cedo.
A situação do Brasil é crítica: a inflação está em alta, corroendo o poder de compra do trabalhador; o crescimento econômico está em baixa, com perspectiva de aumentar o desemprego; o real está perdendo valor frente às outras moedas, impactando nos preços dos produtos importados, gerando mais inflação; os trabalhadores estão endividados, com dificuldade de adimplir seus compromissos; nossos principais clientes internacionais (como a China, por exemplo) estão reduzindo as importações de nossos produtos; as expectativas empresariais estão em baixa, retardando as decisões de investimentos, etc..
Chegamos a um ponto tal de que de nada adianta o boquirroto ministro da Fazenda tentar reverter as expectativas, que estão negativas, com promessas vãs. Em primeiro lugar, porque já errou tanto em suas previsões que ninguém mais nele acredita (aliás, quase ninguém acredita mesmo que Mantega ainda esteja no comando da economia, pois mais parece um ventríloquo, porta voz da verdadeira ministra que é a Dilma), e por outro lado o mercado é sábio, não se deixa levar por palavreados.
O fato é que estamos pagando o preço pelos erros adotados pelo governo Lula na crise de 2008, aquela mesma que ele taxou de marolinha. No momento em que todos os países do mundo se aplicaram em fazer os necessários ajustes nas suas economias, frente à crise mundial, o Brasil optou por pisar no acelerador, aumentando demasiado o consumo e a liquidez do sistema. A fase do oba-oba lulista gerou um desequilíbrio entre a demanda agregada e a oferta de produtos, cujo resultado está latente agora.
No sistema econômico os diversos setores de comunicam. O remédio adotado para combater as anomalias de um setor pode (e quase sempre acontece) provocar efeitos colaterais em outro. Para combater a inflação tem que diminuir a demanda agregada, quando está superaquecida, como é o caso brasileiro, via aumento das taxas de juro. O resultado é um impacto negativo sobre o crescimento, com aumento do desemprego.
Para piorar o cenário nós temos eleições no próximo ano e, por suas atitudes, nossa presidente vai jogar todas as fichas na própria reeleição. Com a popularidade em baixa, não se duvida, vai pisar fundo no acelerador, aumentando ainda mais as despesas governamentais e incentivando o consumo. Afinal é muito melhor concorrer à reeleição em fase oba-oba do que de epa-epa e, ademais, a responsabilidade fiscal não é a marca determinante desse governo.
O resultado será um prolongamento da crise para muito além das eleições, pois quem a vencer não tem alternativa, terá que pisar fundo no freio para arrumar a casa, arrastando-a para os próximos quatro ou cinco anos.
Waldir Serafim é economista em Mato Grosso