Temos acompanhado os esforços faraônicos dos governos das principais economias mundiais no sentido de estabilizar os mercados financeiros, especialmente no que tange a irracional volatilidade das Bolsas, nutrida pela falta de confiança generalizada no setor bancário entre as instituições financeiras, efetivamente, e entre os próprios clientes aplicadores.
Dentro de uma obviedade ímpar e até mesmo elementar, o primeiro ministro da Inglaterra, Gordon Brown, dita as regras do jogo. Ainda que muito perspicaz e propositalmente tímida, a atuação dele tem sido vital na condução ou na recondução do mercado como um todo ao eixo da tão sonhada normalidade.
Gordon opinou fazendo os países da zona do Euro acatarem medidas de proteção e de garantia do funcionamento das instituições e, talvez, a salvação do capitalismo duramente atingido na sua essência, o capital. Dentre essas medidas vamos comentar a principal, qual seja, a participação do Estado na composição acionária dos bancos privados, o que parece um filme nostálgico de volta ao passado, entretanto, é isso efetivamente que está acontecendo.
O governo adquire ações preferenciais sem direito a voto, mas com direito a dividendos. Foi assim no passado e será sempre assim no presente e no futuro, afinal, o sistema tem que ser salvo, não é mesmo? Bom, apesar de necessitar de uma boa dose de coragem, que nesse momento eu diria que coragem e desespero estão como “carne e unha”, o que me chama a atenção é o porquê dá solução vir do outro lado do mundo e não de dentro da cozinha dos nossos co-irmãos “tios sam”, epicentro da crise.
Será que além de terem um sistema financeiro fragilizado de regras, ainda vão deixar claro para o mundo que também não conseguem enxergar o óbvio. A quebra do Leman Brothers (banco de investimento americano) foi uma “barbeiragem” sem precedentes. Como sempre, George Bush se apresenta no palco depois do show e ainda quer aplausos.
No Brasil, estamos assistindo a tudo com muita atenção e, como time treinado e conduzido por bom técnico, a estratégia é vencer o jogo nos erros do adversário ou blindar a casa criando mecanismos de defesa extraídos das falhas de terceiros. O Banco Central já impõe medidas acertadas na direção de dar liquidez ao sistema, socorrendo a agricultura brasileira, indústria e comércio, bem como para manter o nível de consumo e oferta de crédito aos consumidores. Ocorre que “gato escaldado tem medo de água fria”.
Mesmo com o afrouxamento do compulsório dos bancos, ou seja, com cerca de R$ 160 bilhões a disposição dos bancos, direta e indiretamente esses recursos estão empoçados ou represados no caixa dos bancos, que preferem comprar títulos do próprio Governo Federal, retroalimentando a crise. O Banco Central precisa coibir isso e agir com rigor, obrigando as instituições financeiras a colocar o dinheiro no mercado, sob pena de seqüestro desses recursos.
Eder de Moraes Dias é Secretário de Fazenda de Mato Grosso