sábado, 20/abril/2024
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Dedinhos cada vez mais habilidosos, mas e a língua ?

Mariangela Vandresen Silva - mestrando em Letras Unemat Sinop
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Vivemos em um mundo cada vez mais tomado pela tecnologia; Tecnologia que nos aproxima de quem está longe e nos afasta de quem está perto.  Tudo ficou mais acessível, não há como negar que a tecnologia facilita, e muito, nosso dia a dia. E nos acostumamos a conviver com o bônus e o ônus da modernidade, pois ao mesmo tempo em que os processos estão mais ágeis, temos a sensação que o nosso tempo é cada vez mais escasso.

Sem nos darmos conta, nossas relações estão, cada vez mais, virtuais. E isso reflete em vários aspectos na vida cotidiana, por exemplo, pais que não percebem que seus filhos ainda pequenos têm mais contato com um dispositivo eletrônico do que com pessoas.  É no jogo simbólico, na atividade dialógica, que a criança faz recortes da fala do adulto e pode observar recortes de sua fala na fala do outro.  Vemos, então, crianças que não se acalmam, não comem ou não dormem sem o “seu” tablet. Crianças, que sabem navegar na internet e manipulam habilidosamente tablets e smartphones.
Muito tem se falado sobre os aspectos negativos para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças por conta desse acesso precoce aos dispositivos eletrônicos e frequentemente vemos publicar pesquisas que atestam estas informações.

Como Fonoaudióloga clínica, atuando há 20 anos em saúde pública, tenho observado que, nos últimos tempos, é cada vez mais comum, na rotina do consultório, crianças que chegam com dificuldades de fala e linguagem, mas que são experts no manuseio de um celular, autorizadas pelos argumentos dos pais que alegam serem jogos ou vídeos educativos, para ajudar no desenvolvimento da criança.

E assim as crianças ficam, horas a fio, muitas vezes sem o acompanhamento e controle dos pais, imersas nesse mundo tecnológico. Se pararmos para observar em restaurantes, por exemplo, não vemos mais crianças correndo, brincando umas com as outras, mas sim, sentadas, quietas e vidradas na tela de um desses dispositivos. Se estes jogos ou vídeos cumprem a função de estimular o desenvolvimento da linguagem da criança, onde fica o papel da interação com o outro?

Sabemos que o processo de aquisição da linguagem na criança se dá desde o nascimento, quando o adulto interpreta suas ações, atribuindo-lhes sentidos, representando-a como interlocutor, como sujeito. É no jogo simbólico, na atividade dialógica, que a criança faz recortes da fala do adulto e pode observar recortes de sua fala na fala do outro. Assim ela constrói o conhecimento de mundo e da linguagem, em que aprende a respeitar turnos e se colocar como sujeito.

Como fica, então, esta criança que, na maior parte do seu tempo, “interage” com a tela de um dispositivo eletrônico?
Acredito que teremos dedinhos cada vez mais habilidosos, mas e a língua? Na idade e medida adequada, a tecnologia pode ajudar sim em alguns aspectos do desenvolvimento. Mas vale reforçar que, brincar com a criança, olho no olho, aproveitando todos os momentos de interação para apresentar-lhes novas palavras, novos conceitos; ler para criança, contar histórias, cantar; etc., ainda continua sendo a melhor maneira de estimular a linguagem dos pequenos.

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