quarta-feira, 24/abril/2024
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De Merci

Eduardo Gomes de Andrade
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Em muitas circunstâncias o significado da palavra muda dependendo de quem a pronuncia. Se um fazendeiro propuser a um parceleiro que reveja sua prática agrícola a confusão está formada. Se a sugestão partir de um uma ong, principalmente se for supranacional, a aceitação será de imediato. Essa é a realidade nacional, sobretudo nas frentes de colonização na Amazônia e Centro-Oeste.

Em Cuiabá acompanhei a fala Noël Prioux, CEO do Carrefour Brasil sobre o projeto bezerros sustentáveis que seu grupo executará em Juruena e no Vale do Araguaia, em parceria com a ong holandesa Iniciativa para o Comércio Sustentável (IDH). Prioux falou de um tema tão interessante pra sua França, que ao seu lado estava o embaixador francês Michel Miraillet, em plena manhã, horas antes de seu país entrarem campo contra a Bélgica por uma vaga na final do Mundial, o que aconteceu.
Prioux desembarcou em Cuiabá anunciando que o Carrefour desembolsará €3 milhões para financiar, qualificar e fomentar a produção de bezerros sustentáveis por parceleiros da reforma agrária. Sua fala foi reforçada pelo diplomata francês diante de uma atenta plateia que não economizou aplausos ao ouvir sobre a dinheirama que será derramada em Mato Grosso para delírio da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) MST, ongs e ings (indivíduos não governamentais).

Miraillet cumprindo o protocolo diplomático rasgou seda destacando os laços Paris-Cuiabá fortalecidos (ou estabelecidos?) com a chegada a Mato Grosso, de seu patrício, o Barão de Melgaço. Poucos deram ouvidos ao que ele disse. A dinheirama era o que contava – ou que se espera contar nota a nota.

Miraillet e Prioux, por ordem de importância, são exemplos práticos do significado da palavra. Imaginem se um barão da soja ou um rei do gado sugerir a um parceleiro que acaba de ser assentado, que não antropize todo seu lote como a legislação permite? A confusão estará formada. Porém, os franceses, com habilidade e blindados por novos mosqueteiros que se escondem na ong IDH, chegam por aqui oferecendo euros, milhões de euros, para ser mais exato. Não há parceleiro que resista. O cachimbo da paz está acesso.

Não critico o posicionamento dos franceses. Ao contrário, o acho sensacional. Trata-se de um banho diplomático, empresarial e ambiental. Eles tiveram exatamente o que nos falta: sensibilidade, competência e seriedade. Incorporando parceleiros à cadeia pecuária o programa pinga algumas gotas no oceano dessa cadeia produtiva, o que é pouco, mas o verdadeiro ganho tem duas vertentes: a agricultura familiar produzirá bezerros para grande criadores estabelecendo assim harmonia entre eles; e paralelamente a isso o meio ambiente agradecerá na Amazônia e no Araguaia pela redução da área antropizada. Em suas relações sociais o Brasil precisa conquistar legitimidade para pronunciar a palavra certa. Merci!

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista em Mato Grosso
[email protected]

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