segunda-feira, 29/abril/2024
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Dante Martins de Oliveira

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Entre agosto e setembro de 2004, Dante de Oliveira sofreu certamente os mais duros ataques contra sua honra e sua biografia política. Era reta final da campanha eleitoral de prefeito, e os ataques visavam derrubar Wilson Santos, candidato em Cuiabá, pelos flancos, como recomendam os melhores manuais de estratégia de guerra. O flanco, naquele caso, era o Governo Dante e a pessoa do Dante. Desenterraram algumas denúncias surgidas em seu governo, e tentaram associá-lo ao bicheiro João Arcanjo Ribeiro, hoje preso em Cuiabá.

Fui o único (ou pelo menos o primeiro, se alguém se lembrar de outro) jornalista de Mato Grosso a manifestar-se contra aquela campanha pública de desmoralização e desconstrução do “Senhor Diretas”, o maior símbolo político de Mato Grosso dos últimos 100 anos (não foi só do século XX não, senhor prefeito Wilson Santos; possivelmente continuará sendo pelos próximos 100 anos!). O desagravo foi publicado pelo Diário de Cuiabá do dia 25 de agosto de 2004, sob o título “Não aponte o dedo para Dante”.

Naquele mesmo dia, à tarde, entre as dezenas de manifestações, recebi um e-mail do próprio Dante, enviado com cópia ao Paulo Ronan, meu prezado e dileto amigo, o maior tucano entre os tucanos de Mato Grosso. Desde a última quinta-feira, data de seu passamento, quando definitivamente Dante virou o maior mito da política mato-grossense, tenho pensado em como expressar meus sentimentos pelo ocorrido. Tenho mais dificuldade de lidar com a morte, porque não busco consolo na religião. Tento racionalizar o acontecimento, e não encontro resposta para uma vida ser ceifada tão precoce e abruptamente.

Na busca de respostas, revisei minha convivência com Dante de Oliveira. Lembrei-me de quando ouvi falar no autor da Emenda das Diretas Já, em 1984, quanto eu contava com pouco mais de 14 anos, da sua eleição para prefeito de Cuiabá, em 1985, quando vim de Barra do Garças em um ônibus fretado juntamente com outros companheiros para fazer sua boca de urna.

Lembrei-me que Dante foi durante um longo tempo minha referência de esquerda, de liderança popular e progressista, a ponto de ter-se tornado, para mim, o meu Che Guevara Pantaneiro. Lembrei-me também de cada crítica pública que lhe fiz, posteriormente, quando ele era governador e eu divergia de muitas ações e comportamentos seus e de seu governo.

E me lembrei também dessa passagem de 2004, quando sai em sua defesa. Hoje o sei claramente que não foi apenas para proteger um flanco de Wilson Santos, quem apoiei e votei naquela eleição. Foi para proteger um mito, impedindo que o assassinassem no meu imaginário.

E acho que hoje é o dia de tornar pública a carta que Dante me mandou naquela primavera de 2004, revelando seu inteiro teor. Com isso, pretendo que Dante faça sua própria manifestação sobre aquele momento. E mais, pretendo que ele próprio fale do que significa sua morte para Mato Grosso. Ei-la:

“Caro Kleber,

“Li com muita atenção seu artigo sobre o fato ocorrido comigo. Em primeiro lugar, agradeço-lhe as palavras sinceras, e não poderia ser diferente, pois não temos intimidades. Agradeço porque sei que aqueles que têm senso de justiça no mínimo indignaram-se. Acredito que aqueles que passam num governo ganham simpatizantes e não, até aí é normal numa democracia.

“O que é triste no episódio é o uso do poder para tentar beneficiar amiguinho do mesmo. E pior, esquartejando e linchando não a mim, mas a democracia que tanto lutamos por ela. Ela é irmã gêmea da justiça, da seriedade no trato da coisa e da representação pública.

“Você disse muito bem: cabe à justiça julgar. Mas os de mente doentia e autoritária adoram um pré-julgamento, público, de preferência.

“Estão devassando minha vida há dois anos e não encontraram e muito menos encontrarão nada contra mim. Minha evolução patrimonial é extremamente pequena, e da qual eu tenho um enorme ORGULHO, ate porque não poderia ser diferente, pois a minha vida é a de um servidor público por 30 anos. Sem empresa, sem boi, vaca ou coisa parecida.

“Repito, orgulho-me de ser um cidadão de classe média, e mais, desafio-os a continuarem DEVASSANDO minha vida, não tenho nada a esconder.

“Apesar dessas violências, continuo um democrata que acredita nos valores da democracia com um Ministério Público forte, fiscalizador, mas repudio os seus membros fascistas e antidemocratas; o mesmo digo do Judiciário, um poder que deva estar acima de quaisquer questiúnculas, que deva ser árbitro e não parte de planos maquiavélicos e eleitoreiros.

“Por fim, perdi as eleições, mas não perdi minha dignidade, minha honra e minha indignação com a injustiça e a prepotência. Tenho dó e nojo dos falsos moralistas. A eles, o julgamento popular e da história (grifos do Dante).

“A luta continua!!! A Democracia lhe agradece.
“Saudações!
“Dante de Oliveira”.

Kleber Lima é Jornalista é consultor político filiado à ABCOP (Associação Brasileira de Consultores Políticos), e Consultor de Comunicação da KGM SOLUÇÕES INSTITUCIONAIS. [email protected]

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