Folha de S.Paulo da última segunda trouxe uma reportagem sobre a descoberta, por cientistas brasileiros da UFRJ, do aumento de genes no cromossomo Y das moscas drosófilas. O babado é sério. Tanto que será publicado por uma das revistas científicas mais importantes do mundo, a ‘Nature’ – fundada em 1869, no Reino Unido.
Das cerca de 100 linhas da reportagem, devo ter entendido umas 10! Mesmo assim, ainda entendi mais sobre os cromossomos das abjetas mosquinhas do que sobre aquela entrevista da primeira-dama Terezinha Maggi na semana passada. Nonsense puro!
O assunto parece meio intocado nos circuitos de opinião. Ninguém quer se indispor com a mulher do governador. Aliás, dizem que é melhor brigar com o cara do que com sua esposa. Logo, nem toda a imprensa repercutiu a entrevista, cometida para o jornalista Marcos Coutinho e o radialista e ex-deputado Lino Rossi.
Mas – especialmente pela cobertura corajosa e livre dos sites e blogs de notícias locais – foi suficiente para provocar uma mini-hecatombe nos bastidores políticos.
Os alvos da Dona Terezinha foram basicamente o PMDB (em particular Zé do Pátio e Carlos Bezerra), e o prefeito Wilson Santos, do PSDB. A coincidência entre eles é o fato de Bezerra e Wilson terem sido apoiadores importantes da eleição de Pátio em Rondonópolis.
O resultado das eleições em Rondonópolis não agradou ao Palácio Paiaguás. Claro, uma vez que seu candidato era outro. Mas, a disputa democrática pressupõe dois resultados básicos: ganhar ou perder. Estas possibilidades estão dadas quando do registro dos candidatos. Logo, revoltar-se com a derrota eleitoral é sinal de que a regra de ouro do jogo democrático não foi assimilada.
A tragédia da entrevista da primeira-dama do Estado começa pela falha da assessoria de imprensa do Estado. (Sim, primeira-dama é assunto de Estado, como o é o próprio governador). Permitir que ela fosse para uma entrevista daquela, ao vivo, sem preparação prévia, ou deliberadamente com aquela intenção chega a ser irresponsabilidade e negligência profissional. E não vale o argumento de que não foi possível dissuadi-la. Para esses casos, quando o parecer técnico não é ouvido, o senso profissional recomenda o pedido de demissão.
Nem vou entrar no mérito das críticas feitas pela primeira-dama. Não se pode cobrar do carpinteiro pelo erro do encanador. A entrevista da Dona Terezinha revela um ponto fraco preocupante do atual estágio do governo de Blairo Maggi: a ausência de um interlocutor ou porta-voz político do Governo. O único que esse governo teve, ainda que exercendo função incompatível para a missão, foi Luiz Antonio Pagot. Talvez ainda esteja em tempo de Blairo Maggi corrigir essa falha. Para isso, deve se lembrar que em política e em governo não existe “Senhor do Bom Começo”, mas somente o “Senhor do Bom Fim”.
P.S.: Sobre a mosquinha, o barato do ensaio da Folha é que o aumento dos genes do cromossomo Y, acima da sua morte, é que, pelo que entendi, podem nascer mais mosquinhas machos. Além disso, os estudos sobre os cromossomos das drosófilas têm ajudado no tratamento de doenças que afetam seres humanos, como a Síndrome de Down.
Kleber Lima é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso