Estudos recentes realizados pelos conselhos Federal e Regional de Economia do Distrito Federal (Cofecon e Corecon), que deram origem ao Mapa da Desigualdade Espacial da Renda no Brasil, apontam que a região Centro-Oeste está cada vez mais próxima do Sul e do Sudeste quando o assunto é o dinamismo econômico.
Esta aceleração mais forte no interior do Brasil se deve, em grande medida, ao desenvolvimento da agropecuária e à migração de muitas agroindústrias do Sudeste e do Sul para próximo dos campos de cultivo do Centro-Oeste, reafirmando o enorme potencial de crescimento da região.
O Estado de Mato Grosso, em particular, não só desfruta de um crescimento superior à média nacional, como sua região central possui uma das maiores rendas per capita do País. De fato, a região centro-mato-grossense possui hoje um PIB per capita de R$ 33.146, muito superior à média nacional de R$ 12.396.
Uma realidade paradoxal, ao analisarmos os problemas apontados por recente estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas, em parceria com a ONG Trata Brasil, no que diz respeito à altíssima incidência de doenças infecto-parasitárias, em crianças de Mato Grosso de até um ano de idade. A relação direta de causa e efeito é o precário sistema de saneamento básico existente.
O levantamento, divulgado pela imprensa, continua em debate e revela o impensável: ao invés de crescer, a rede de esgoto encolheu, não acompanhando o crescimento populacional, sobretudo nas periferias, não só na Capital, Cuiabá, mas em outras cidades do Estado.
Cresceu em 3,59% a população sem acesso ao saneamento. Na Capital, apenas 38% têm coleta adequada. À falta de investimentos à altura da demanda, o restante continua servido por sistema de fossas ou não servido de jeito nenhum, usando diretamente o rio.
Vale dizer que a maioria dos mato-grossenses vive, ainda hoje, as agruras, os riscos e os males que assolavam o europeu na Idade Média. À sua revelia, esses cidadãos estão parados no tempo, porque não chegaram ao Estado os benefícios mais elementares de uma adequada organização urbana. O déficit desses serviços no Estado é de 90,71%, o que o torna a sexta pior região do País, nesse aspecto.
Mato Grosso não tem acompanhado a evolução nacional. Em termos de acesso a água tratada e a coleta de esgoto e lixo, o Brasil melhorou, entre 2006 e 2007. O déficit, que era, em 2006, de 53,23%, passou a 50,56%. Foi um avanço, ainda que não suficiente para tirar o País de um vergonhoso 61º lugar.
Os estados vizinhos do Centro-Oeste, com semelhantes níveis de expansão demográfica, viram cair os respectivos índices de morbidade: 27% em Goiás e 24% em Mato Grosso do Sul. Mato Grosso teve queda de 12,8%. A média brasileira está em torno dos 20%.
Segundo o trabalho, a ausência de saneamento básico aumenta em 24% a mortalidade no nascimento. Mato Grosso teve a terceira menor queda de doenças infecciosas e parasitárias, comparativamente aos números nacionais.
Diante de situação degradante, as crianças correm sério risco de ter o desenvolvimento físico-mental comprometido. É comum a diminuição da freqüência escolar e laboral, o que acaba por inviabilizar todos os esforços pelo desenvolvimento, em termos de melhoria de renda e de diminuição das desigualdades sociais.
A extinção da Sanemat contribuiu para chegarmos hoje a essa situação. Os municípios ficaram sem apoio técnico para a elaboração de projetos, com o conhecimento das reais necessidades e em condições de buscar recursos de imediato.
Como governador do Estado implantei, a partir de 1987, um grande programa de pavimentação de ruas em bairros periféricos, com redes de água e esgoto em várias cidades, além de amplos investimentos no sistema de esgotamento sanitário em Cuiabá e Rondonópolis.
Mas temos esperança que as obras do PAC sejam realmente efetivadas e estendidas aos municípios mato-grossenses. Meu trabalho, iniciado há praticamente 20 anos, infelizmente foi descontinuado, por falta de coragem e decisão política dos governantes, com poucos investimentos, enquanto a população cresceu consideravelmente. Vamos trabalhar para recuperar o tempo perdido. Mas temos uma luta difícil pela frente. Precisamos operar uma mudança de mentalidade, para que todos compreendam que prevenir é muito melhor do que remediar e, fundamentalmente, que governar é precisamente promover o bem-estar da população.
Carlos Bezerra é deputado federal do PMDB-MT e governou Mato Grosso de 1987 a 1990.