Os dois maiores colégios eleitorais de Mato Grosso estão bastante agitados nesse período que antecede o início [em julho] das campanhas de prefeito e vereador. O ambiente político de Cuiabá e Várzea Grande é motivo de discussões, aumenta as bolsas de apostas e, obviamente, gera farto noticiário na Imprensa.
É bem provável que a disputa eleitoral na capital se polarize entre o prefeito Wilson Santos (PSDB), com a sua recandidatura, o empresário Mauro Mendes (PR) e o deputado estadual Walter Rabello (PP). Este último vive um inferno astral que começou com a sua demissão sumária do SBT, motivada pelo uso e abuso da emissora como palanque eleitoreiro. Por sinal, depois desse episódio, o parlamentar afundou no ostracismo. Sem TV, não há como fazer média com o eleitor. Virou uma figura sem expressão. Ademais, está na iminência de ter o mandato cassado, por infidelidade partidária.
Enquanto isso, o DEM ensaia lançar Iraci França. A ex-vice-governadora tem a vantagem de ser um nome sem desgastes. Tem muitos serviços prestados na área social. O problema é que a cúpula demista não inspira a menor confiança. O DEM herdou do PFL o eterno gosto pelos balcões de negócios: não sabe se lança Iraci, vislumbra apoio a Wilson e nem descarta, inclusive, apoio a Rabello.
No PSB, o deputado federal Valtenir Pereira tenta empurrar a sigla para a disputa eleitoral. Encontra dificuldades para formar um arco de alianças e não consegue passar a imagem de político confiável. Pereira elegeu-se vereador em Cuiabá no auge da comoção pela morte do pai, em Juscimeira; aproveitou a onda e ganhou uma vaga na Câmara Federal. Há quem veja nisso mero oportunismo.
O PT é a decepção. A senadora Serys Slhessarenko, ao que parece, cansou de ir para o sacrifício. O deputado federal Carlos Abicalil, uma das mais cintilantes estrelas do petismo, prefere a proximidade com Lula e sonha com 2010. O PMDB, cuja marca é o fisiologismo, fechou com o PSDB em troca de sinecuras no Alencastro.
Do outro lado da ponte, a história é até interessante. Definitivamente, o ex-governador Júlio Campos (DEM) e o deputado estadual Maksuês Leite (PP) polarizam a disputa. Ainda que o prefeito Murilo Domingos (PR) decida encarar a reeleição – o que seria insultar a inteligência do eleitor -, será difícil afastar demistas e progressistas do centro das atenções.
Júlio e Maksuês disputam o apoio do deputado Wallace Guimarães, depois que o parlamentar foi alijado da disputa interna pela candidatura, num processo muito mal contado e dos mais suspeitos. A tendência é de que Wallace se alie a Maksuês, que já teve formalizado o apoio do PT, namora PMDB, PSDB e outros menores.
A campanha de Júlio Campos – que, como ele próprio admitiu publicamente, começou ainda quando era funcionário do Tribunal de Contas, portanto, ao arrepio da legislação – revela que o ex-governador ainda não se deu conta de que Várzea Grande, há muitas luas, deixou de ser um curral eleitoral. Na verdade, deixou de ser um feudo de sua família.
Mas, pelo jeito, o político parece não ligar para os ventos da modernidade, do bom senso. O recado ele deu por meio de seu filho, Júlio Neto. Numa entrevista a um jornal eletrônico, na semana passada, o rapaz foi claro e objetivo, num misto de demagogia: “Imprescindível para Júlio é só o povo. Wallace e Josias [irmão do deputado e um dos líderes políticos locais] são dispensáveis”.
De acordo com Júlio Neto, o pai não está nada preocupado se o deputado Wallace, com quem disputou as prévias da agremiação, irá apoiá-lo ou vai se aliar a Makusês. Quem diria! Ainda há pouco, o dr. Júlio praticamente implorava o apoio do dr Wallace. A forma como o filho do ex-governador desdenhou o apoio do deputado democrata, sinceramente, cheira a arrogância, prepotência. É como se o pai famoso já tivesse vencido o pleito por antecipação.
Dos episódios em Cuiabá e Várzea Grande, a conclusão imperativa é de que os palanques já estão montados, ao lado funcionam os balcões de negociatas, mas, lamentavelmente, ao eleitor não é oferecido sequer um esboço de Programa de Governo.
Antonio de Souza é jornalista em Cuiabá e não tem filiação partidária