A vida é feita de amores. Amamos nossa família, nosso país, nossos amigos. Amamos nossa fé religiosa, nosso time de futebol, nossos pratos prediletos. Além disso, cada qual tem seus amores particulares. No meu caso, os livros.
Aprendi a amá-los desde cedo, nas longas férias de verão na casa do meu avô no oeste catarinense, contemplando prateleiras que me pareciam imensas com coleções de várias espécies. Nos dias de sol, brincava com a piazada no quintal e nas ruas de terra; quando chovia, refugiava-me nos livros. Numa época sem internet, celular, videogames e em que sequer havia televisão naquelas lonjuras e as matinês do único cinema eram apenas aos sábados, os livros eram meus companheiros imbatíveis. Histórias de caubóis e mitologia grega, Monteiro Lobato, Malba Tahan, Júlio Verne, Mark Twain, Tintin: tudo era lido e relido com o encantamento da descoberta e o prazer de compartilhar as aventuras daqueles personagens heróis.
Essa paixão nunca me deixou, nem eu a ela. Mais tarde, realizei o sonho de publicar meus próprios livros, sem jamais perder o hábito de deleitar-me na leitura de grandes mestres: Cora Coralina, Guimarães Rosa, Vitor Hugo, Shakespeare. Houve livros que me impactaram profundamente: Voltaire, Kardec, os economistas clássicos. Outros eram a garantia de relaxamento e sossego: Agatha Christie, Rex Stout, Tony Hillerman. Nos livros encontrei a beleza da poesia e a sabedoria dos filósofos; neles busquei meu aprimoramento espiritual e profissional; neles saciei minha curiosidade e inquietação intelectual. Foram para mim instrumentos de estudo e de entretenimento, em que encontrei palavras de consolo e de estímulo, de esclarecimento e de fé. Se tenho uma frustração, é a certeza de que nunca terei tempo para ler ou reler todos os livros que gostaria.
É natural, portanto, que me sensibilize a necessidade de políticas públicas que estimulem a leitura, a produção literária, a publicação de novos autores e a criação e manutenção de bibliotecas públicas. Dou razão a Monteiro Lobato, que proclamou que um país se constrói com homens e com livros. Nas duas últimas décadas, a rede de políticas sociais implantada no país teve êxito ao promover a saída de milhões de famílias da pobreza. Mas é necessário, além do corpo, alimentar o espírito. A educação e seu principal instrumento, a leitura, são essenciais para a construção da cidadania, para a emancipação individual e coletiva e para a consolidação da democracia. O hábito da leitura desenvolve o espírito crítico, lapida a sensibilidade e desperta interesse por outras manifestações culturais. Todavia, a política nacional do livro, instituída em 2003, completou uma década com parcos resultados.
Entre as metas da Política Nacional de Cultura, aprovada em 2011, está a de que em 2020 cada brasileiro deverá ler quatro livros por ano, fora do aprendizado formal. Esse índice era de 1,3 em 2011, ou seja, necessita crescer 0,3 todos os anos para alcançar a meta. No entanto, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil revelou que o número de leitores diminuiu em termos absolutos e percentuais entre 2007 e 2011, bem como diminuiu o interesse relativo pela leitura diante de outras atividades como assistir televisão ou navegar na internet. Nada menos que 150 milhões de brasileiros não tinham comprado nenhum livro nos três meses anteriores à pesquisa.
Portanto, é fundamental o compromisso e o engajamento de todas as esferas governamentais para disseminar a leitura. Em outras nações, é comum ver os líderes políticos, atletas ou artistas de renome comentando acerca de suas preferências literárias ou fotografados lendo um livro em seus momentos de lazer. Como em tantas áreas, seria positivo que as personalidades mais admiradas pelo povo oferecessem bons exemplos, como o de amor aos livros.
Luiz Henrique Lima – auditor Substituto de Conselheiro do TCE – Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia.