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A taxa de desemprego: uma falsa medida

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Diante de uma Europa que atravessa uma fase de altíssimas taxas de desemprego, com quase 25% de sua população desempregada, pode parecer, à primeira vista, que o Brasil, cuja taxa de desemprego, medida pelo IBGE, foi de 5,4% em janeiro de 2013, está voando em céu de brigadeiro. Não é bem assim. Essas estatísticas, embora venham de fontes fidedignas, falseiam a realidade. É preciso uma análise mais acurada, para entender o fenômeno.

A taxa de desemprego é uma porcentagem da População Economicamente Ativa (PEA) que está desempregada e, no Brasil é calculada por diversas instituições, que utilizam metodologias diferentes. Além do IBGE, nós temos também a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos (DIEESE), que também calculam a taxa de desemprego.

O IBGE, com base em dados de seis regiões metropolitanas: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Salvador, utiliza como metodologia o critério de desemprego aberto, no qual somente as pessoas que no período de referência estavam disponíveis para trabalhar e realmente procuraram trabalho são consideradas desempregadas. O Seade e o Dieese – que realizam a pesquisa no Distrito Federal e nas regiões metropolitanas de São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife – adotam o critério de desemprego total, que engloba também o desemprego oculto e nesse estão inseridos o empregado em trabalho precário e o desempregado pelo desalento.

Os cálculos apresentam resultados bem diferentes. Por exemplo, em janeiro de 2013, enquanto o IBGE aponta uma taxa de 5,4%, o DIEESE calcula a mesma taxa em 10,0%, ou seja, quase o dobro. E isso não é tudo, o IBGE considera como empregada mesmo uma pessoa que tenha trabalhado apenas uma hora durante a semana, a qualquer soldo. Assim, mesmo aquelas pessoas que jogam malabares nas esquinas do país, são consideradas empregadas.
Além disso, as metodologias utilizadas apresentam diversos vieses que distorcem os resultados e precisam de uma melhor reflexão.

O primeiro viés é quanto à abrangência da amostra. Como se pode ver acima, ambos os institutos pesquisam apenas as regiões metropolitanas que, por serem capitais políticas, têm a economia mais dinâmica, principalmente o setor de serviços governamentais e não governamentais que, a rigor, é o único setor que está em crescimento no país. Os empregos na indústria e no comércio em geral estão minguando enquanto crescem no setor de serviços. Logo, essas regiões são as menos afetadas pela queda no emprego. Abrangesse a pesquisa o interior do país e o resultado seria bem diferente.

Outro viés relaciona-se à metodologia aplicada. Ambos os institutos usam na base de cálculo a PEA – População Economicamente Ativa – que englobam as pessoas em idade adulta, que estão empregadas ou procurando emprego – ao invés da PIA – População em Idade Ativa, que compreende o conjunto de todas as pessoas teoricamente aptas a exercer uma atividade econômica.

A diferença entre a PEA e a PIA não é pequena. O DIEESE calculou que para as regiões pesquisadas, em janeiro de 2013, a PIA montava 37,3 milhões e a PEA 22,5 milhões de pessoas. Portanto, somente nessas regiões existe um contingente 14,8 milhões de pessoas que poderiam estar no mercado de trabalho, mas que não estão nem empregadas nem procurando emprego e, portanto, fora da estatística.

E quem são essas pessoas? São basicamente os incapacitados, os estudantes e as pessoas que cuidam de afazeres domésticos as donas de casa, além de outras categorias não remuneradas. Também fazem parte desse contingente os beneficiários de programas sociais como o Bolsa Família que, em sua maioria, acomodam-se numa determinada zona de conforto e não participam mais do mercado de trabalho. Seriam classificados como desalentados, que o IBGE considera todo aquele que está desempregado e há mais de um mês não busca emprego.

O leitor pode ficar surpreso, mas há de concordar que se o país não tivesse desemprego, como afirmam as estatísticas, não precisava ter o programa Bolsa família, não é mesmo?

Agora vamos fazer as contas. Segundo informações do governo, existem hoje 13,8 milhões de famílias inseridas no Bolsa Família. Considerando apenas duas pessoas em idade adulta, o pai e a mãe, nós teremos um contingente de 27,6 milhões de pessoas desempregadas e não procurando emprego, e que estão fora das estatísticas, somente por conta desse programa.

Como se pode ver, nossa situação é bem assemelhada à europeia, que está passando por uma crise sem precedentes, mas, enquanto lá os resultados são apresentados sem disfarce, os nossos resultados representam uma falsa medida.

Waldir Serafim é economista em Mato Grosso

 

 

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