A cada dia que passa, a cada depoimento ou revelação, cada uma superando a anterior em gravidade, e até beirando ao ridículo, como o episódio do assessor parlamentar José Adalberto Vieira da Silva, preso por embarcar com 100 mil dólares na cueca, a sensação é de que a crise política caminha para um desenlace inevitável: a ligação do presidente com os acontecimentos é maior que se admite.
Os caminhos sinuosos do PT,passam por Waldomiro Diniz, caso Celso Daniel, Zezé Di Camargo,Banco do Brasil, mensalão, Furnas e sabem-se lá quais outros esquemas.
Nessa trajetória de corrupção já assumida pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares, Lula se mostra como um mero figurante, envolto a uma situação surreal (que se afasta da razão ou da realidade), como não tivesse que esclarecer nada, e dá pronunciamentos dizendo que tudo isto “que é feito no Brasil sistematicamente”. Isso foi o que deu tratar Lula, nesta crise, como se ele fosse incapaz de responder pelos atos de sua administração. A imagem de inimputável-intocável convenceu-o tanto que, pelo que parece, todo mundo tem culpa no Brasil, menos ele, e de quebra postula
o título, de uma lista única, de referência ética no País, e não duvidem se ele começar a disparar contra seus pares, como o único traído e defensor da
moralidade.
Definitivamente, o chefe do executivo não “caiu na real”, porque se soube do assunto e não tomou nenhuma providência, Lula pode ser acusado de crime de responsabilidade, nos termos do art. 84 da Constituição e, também na Lei nº 1.079/1950-Lei do Impeachment. O pior: continuará dar ares de surrealidade, pois sabe que um impeachment não é um processo jurídico, mas é, principalmente, político. O que quer dizer que a prova da omissão não adianta-é preciso força política para puni-lo, o que no caso de Lula ainda não existe.
Nesse ponto há um consenso no mundo político, até mesmo entre a oposição, que o prefere como candidato fraco a reeleição do que como uma vítima, sem contar que não correriam o risco do vice José Alencar assumir, pois a política monetária dos juros altos para conter a inflação deve continuar. Nas ruas, não existe a palavra de ordem do tipo “Fora FHC” tanto ouvida no mandato tucano, e apesar do PT ser metralhado de acusações, o presidente Lula é o queridinho dos brasileiros, e, hoje, venceria os possíveis presidenciáveis, inclusive FHC, segundo a últimas pesquisas da CNT/Sensus-Data Folha.
Diante do clima de que tudo pode acontecer, espera-se que o presidente pelo menos deixe essa postura surreal, já que sua biografia, apesar de extraordinária, não lhe garante isenção automática de culpa.
Raquel Barua Cunha é jornalista, advogada, especialista em Direito Tributário com ênfase em planejamento empresarial. E-mail: [email protected].