terça-feira, 21/maio/2024
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A Eva de Nilson Leitão

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Nesta semana, o juiz da 89ª Vara do Trabalho de São Paulo, Marcos Neves Fava, multou em R$ 2,8 mil por litigância de má-fé um trabalhador que disse trabalhar numa empresa 24 horas por dia durante quatro anos. Na sentença, citou o seguinte trecho de Humano, Demasiado Humano, de Friedrich Nietzsche:

“Porque é que, na maior parte das vezes, os homens na vida quotidiana dizem a verdade? Certamente, não porque um deus proibiu mentir. Mas sim, em primeiro lugar, porque é mais cômodo, pois a mentira exige invenção, dissimulação e memória. (…) Quem conta uma mentira raramente se apercebe do pesado fardo que toma sobre si; é que, para manter uma mentira, tem de inventar outras vinte’. Em seguida, porque, em circunstâncias simples, é vantajoso dizer diretamente: quero isto, fiz aquilo, e outras coisas parecidas; portanto, porque a via da obrigação e da autoridade é mais segura que a do ardil. Se uma criança, porém, tiver sido educada em circunstâncias domésticas complicadas, então maneja a mentira com a mesma naturalidade e diz, involuntariamente, sempre aquilo que corresponde ao seu interesse; um sentido da verdade, uma repugnância ante a mentira em si, são-lhe completamente estranhos e inacessíveis, e, portanto, ela mente com toda a inocência”.

Esta citação me faz pensar no que pode ter acontecido com o prefeito Nilson Leitão, preso pela Polícia Federal, nesta quinta, 17 de maio de 2007, na chamada Operação Navalha. Inteligente, muito bem criado, educado, bom moço, bom pai de família, religioso, entusiasmado com Sinop! Energia pura desde os tempos do Farrapus, o grupo que formou com amigos para disputar – e vencer – gincanas e jogos olímpicos. Será que ele enganou Sinop esse tempo todo? Prefiro acreditar que não. É cedo para dizer qualquer coisa, mas é possível imaginar que talvez Nilson não tenha resistido e possa ter comido da fruta apresentada pelo ex-secretário Jair Pessine, a quem conheceu no paraíso da reeleição, em 2004.

Esse senhor, que também foi preso na mesma operação, tem uma longa lista de processos na Justiça. Ou Nilson não percebeu com quem andava ou deixou-se levar pelo fruto da árvore do mal. Ironia das ironias: se não tivesse ido à reeleição, Nilson talvez não tivesse conhecido sua Eva e talvez não tivesse que passar pelo horror de ser preso e conduzido algemado para Brasília. Aos 38 anos, completados no dia 25 de fevereiro passado, Nilson só agora pode estar dando razão a vários de seus amigos e colaboradores que alertavam sobre seu deslumbre pelo senhor Jair Pessine. Alguns cliques pela Internet poderiam ter clareado a então ofuscada visão do prefeito.

Mesmo que não tenha comido do fruto proibido, Nilson entra para a história de Sinop e Mato Grosso pelas páginas policiais. Penoso, triste, árduo, delicado, embaraçoso para ele e a família. Mas muito mais para Sinop, terra que, até então, era só de boas notícias, carro-chefe de sua história. Até porque, uma nova pergunta começa a exigir resposta: será que Nilson Leitão conheceu outras Evas?

Leonildo Severo da Silva é advogado em Sinop.
[email protected]

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