As eleições de Cuiabá este ano podem ser definidas como a disputa dos candidatos dos “sem”.
Mauro Mendes pecou por ser um candidato sem bandeira. Incrível como um sujeito que é presidente da Federação das Indústrias e tem uma trajetória pessoal iconoclástica, de alguém que vem de baixo e pode subir na vida, não tenha apresentado uma boa proposta de desenvolvimento econômico para Cuiabá, capaz de gerar empregos, dignidade e oportunidade para os trabalhadores, para o povão, a maioria do eleitorado. Ele não sabia fazer política. Não era conhecido. Só tinha duas coisas: apoios importantes (e dinheiro) e essa suposta capacidade de administrador, empresário, gerador de desenvolvimento e emprego. Só usou uma das suas principais armas.
Ainda no primeiro turno, Walter Rabello foi o candidato sem autonomia e sem fisionomia. Não passou confiança ao eleitorado exatamente por depender sempre um de um líder maior que decidisse por ele. Acabou ficando conhecido nos bastidores como um político que precisa de patrão. Por ouvir demais esses patrões, fez todas as opções erradas, a começar pela mudança de partido. Foi apresentado no horário eleitoral gratuito como apresentador de TV. E eleitor não vota num apresentador para dirigir os destinos e o dia-a-dia da sua cidade. Vota num líder ou num bom gerente. Ao definir-se como um reles apresentador, Rabello viu sua liderança nas intenções de voto por mais de 18 meses encolher até chegar como terceiro colocado no primeiro turno. Esta foi a maior derrota entre todos os candidatos que disputaram a eleição para prefeito este ano.
Valtenir Pereira foi um candidato sem noção. Ensaiou um frente de esquerda, batizada de esquerda da coalizão nacional que dá sustentação ao presidente Lula, e acabou, por não ter a menor habilidade para negociações políticas, isolado, absolutamente sozinho, ao optar por uma vice de seu próprio partido. Depois disso, ainda participou daquela encenação para ser vice de Wilson Santos, recalcitrou, quis dar uma pedalada no tucano, e acabou obtendo uma votação pífia, inexpressiva, que pode comprometer seriamente sua carreira doravante.
O Procurador Mauro foi um candidato sem propósito, como de resto é sem propósito o seu PSTU, esquerda da esquerda da esquerda, que de tanto virar para o lado errado acaba chegando sempre atrás de onde partiu.
Finalmente, em função de tudo isso, Wilson Santos foi um candidato sem adversário. Fez um governo mais ou menos nesses quase quatro anos. Todos os estudos aprofundados realizados nos últimos 18 meses apontaram sua administração como regular. Nunca foi boa ou ótima, mas também nunca chegou a ser considerada ruim ou péssima. Por essa exata razão, em que pese não ter adversário, precisou de dois turnos para vencer uma eleição que poderia ter sido resolvida num único ato.
No primeiro turno, Wilson teve que vender sua administração. Pela incapacidade dos candidatos adversários, acabou conseguindo pautar o primeiro turno, e quase liquidou a eleição ali mesmo, não fosse a recaída de baixaria de sua campanha na reta final. Já no segundo turno fez a campanha certa, de candidato único, ignorando o adversário, que não soube chamar a atenção do eleitor para o que ele tinha de melhor, reitero, que era sua suposta capacidade de apresentar um bom programa de desenvolvimento para Cuiabá, e com isso gerar emprego e bem-estar para as pessoas.
Por conta dessa característica, a cidade continua sem rumo, sem um projeto estratégico que possa devolver-lhe a grandiosidade de Capital do Estado de Mato Grosso. Espera-se que a autocrítica feita por Wilson Santos no dia da eleição do segundo turno seja verdadeira, e que ele de fato saia do gabinete e vá para os bairros, para as ruas, buscar no povo o rumo para seu segundo governo. Caso contrário, continuaremos sem futuro.
Kleber Lima é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso